
Quando o Vento Soprou ao Contrário
A aula tinha acabado. Já passava das 11h30 da manhã. Como de costume, o laboratório de informática da Estácio de Sá, em Vila Velha, ficava aberto aos alunos após as aulas. Saí da sala refrigerada e fui de encontro ao calor escaldante do corredor externo.
Senti a pressão do ar quente no rosto. O vento seco, misturado à poeira dos paralelepípedos da rua, me tocava como quem empurra sem pedir licença. A luz era intensa, quase agressiva. Do outro lado, vi o colégio Darwin, imponente. E, por um instante, algo estranho me atravessou: uma saudade do que nunca vivi. Um lamento suave do que poderia ter sido e não foi. Um desejo de ter estado ali, anos antes, como se aquilo pudesse ter mudado alguma coisa em mim.
Era para eu ir embora. Era o que todo mundo fazia. Mas aquele vento, aquele calor, aquela sensação de não pertencimento, me empurraram na direção oposta. E fui. Fui levado para dentro do laboratório.
Sentei-me em frente ao computador sem saber o que procurar. Abri páginas aleatórias, cliquei por impulso. Até que me deparei com algo novo para mim: páginas onde pessoas escreviam o que viviam, o que pensavam, o que sentiam. Descobri os blogs.
Sem entender muito, mas com algo pulsando por dentro, fui até o Blogger. Preenchi os campos, sem tutorial, sem ninguém para ensinar. Quando pediram o nome do blog, veio como um sopro. Não o vento quente lá de fora, mas um vento outro — íntimo, silencioso, cheio de sentido.
E com ele, veio o nome: Ideias para a Vida.
Foi ali que tudo começou.
Não tinha computador em casa. Mas naquele dia, naquele calor, entre o pó da rua e o frescor da sala de máquinas, nasceu em mim algo maior do que a estrutura de uma página online.
Nasceu o desejo de escrever. De transformar em palavra o que me atravessava. De dar nome ao que doía, ao que sonhava, ao que ardia.
Ali entendi que a vida também pode começar de uma página em branco.
E, desde então, nunca mais deixei de escrever.
