Há sentimentos que se expressam por meio de uma exatidão inexata; paradoxalmente precisos em sua imprecisão, como um lastro pesado que se expande e toma volume, desfocando limites e identidades. Um sentimento que insiste em não ser rotulado, embora exista concretamente em sua própria abstração. Refiro-me ao “vazio”, não aquele “nada” simples e inexistente, mas a algo maior, mais profundo e inevitavelmente presente.
O vazio não pode ser definido simplesmente como ausência, pois ele é. Ele possui forma na ausência de forma, é o ser do não ser, uma presença que persiste justamente em sua negação. É nesse paradoxo que ele ganha potência e vida própria, fazendo-se notar ao resistir obstinadamente em permanecer. É o encontro inevitável das polaridades existenciais, um confronto entre aquilo que já fui e aquilo que não encontro mais no presente nem enxergo claramente no futuro.
Como um missionário das minhas próprias memórias, caminho pelas estradas sinuosas do passado em busca de refúgio. Não é no agora, nem no porvir, mas justamente lá, onde reside aquilo que fui e desconheço atualmente. Minha jornada é marcada por uma emergência contínua de ser, por resvalar em gotas de saudade e em suor de uma liberdade que permanece cativa. É uma luta constante com um gigante invisível, um aspecto essencialmente residencial das artes subescusas da moralidade vigente.
Neste entrelaçar de tempos e estados emocionais, percebo que o vazio é uma vivificância complexa e essencial, uma verdade íntima e indizível que exige ser sentida para ser compreendida, mesmo sem nunca poder ser totalmente apreendida ou claramente definida.