A Maçã: Símbolo de Sustentação e Mistério

A maçã, ali pendurada, entre as folhas, parece conter em si o segredo da humanidade. Ela não é apenas um fruto, mas um símbolo que carrega o peso dos mitos, o fascínio da ciência e o encanto do cotidiano. Sua aparência fresca, com a cor que mistura o vermelho-púrpura com o toque do orvalho da manhã, sugere algo mais profundo — um convite a descobrir o que está além da superfície. Ela veste-se de púrpura como quem sabe de seu valor, de sua importância, com uma elegância natural que chama a atenção e desafia o olhar.

Há nela um frescor que evoca o início de tudo, o momento em que o primeiro raio de sol toca a pele da manhã, como se a fruta fosse um fragmento do amanhecer congelado em matéria. É o sabor do novo, do que está por vir, e que carrega em si a promessa da sustentação. Pois a maçã, com sua simplicidade e abundância, é alimento; ela é a própria possibilidade de sustento que, ao mesmo tempo em que sacia a fome do corpo, traz consigo a inquietude do mistério — o desejo de conhecer, de experimentar, de ultrapassar o limite do conhecido.

Ao vesti-se de púrpura, ela carrega uma cor que transcende o que é meramente físico. O púrpura é a cor da realeza, da sabedoria, da paixão que vai além do carnal e toca o espiritual. A maçã não é apenas fruto, mas símbolo de conhecimento e tentação. Ao se revestir com essa cor, ela nos lembra do equilíbrio delicado entre o desejo e a responsabilidade, entre a atração pelo desconhecido e o respeito pela ordem natural.

E ali ela repousa, solha com a alva, como quem aguarda o olhar atento, o toque cuidadoso. Ela se deixa ver e, ao mesmo tempo, se esconde, como se sua natureza fosse revelar-se apenas a quem enxerga além da casca. É um convite ao despertar da sensibilidade, a saborear o instante e a reconhecer que, muitas vezes, o simples ato de contemplar é tão nutritivo quanto o ato de consumir. A maçã, símbolo e sustento, parece nos lembrar que a vida é feita dessas dualidades — o ser e o parecer, o visível e o invisível, o corpo e a alma —, e que o verdadeiro alimento talvez esteja em ver o mundo com os olhos da contemplação e da reverência.

A maçã é mais do que fruto. Ela é um projeto de sustentação da humanidade, um lembrete silencioso de que a beleza e o mistério são parte de nossa própria essência. Ao contemplá-la, somos chamados a ver além do imediato, a descobrir que no simples repousa o divino, e que o alimento verdadeiro é aquele que, ao nutrir o corpo, também alimenta o espírito.

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