O Medo e a Liberdade Divina

Jesus, em suas palavras revolucionárias, declarou que veio para libertar os cativos, para oferecer uma esperança que dissolveria as correntes invisíveis que prendem o homem ao mundo e a si mesmo. Ele trouxe uma liberdade que confronta e desafia o medo, uma liberdade que transcende a ordem do tangível e convida o ser humano a um novo tipo de vida — uma vida de confiança que não repousa em posses ou seguranças mundanas, mas na presença contínua do divino.

A liberdade que Jesus concede não é meramente a ausência de restrições terrenas, mas uma transformação radical operada pelo Espírito Santo. Trata-se de uma liberdade ancorada na ação do próprio Deus, que molda o coração humano, recriando-o segundo os princípios eternos do Criador. Não é uma liberdade de fazer o que queremos, mas de ser moldados pelo Amor, pelo propósito, por aquilo que conduz o homem a sua essência mais pura. Quando o Espírito de Deus age no homem, ele é liberto do medo que o paralisa, que o reduz a buscar refúgio apenas naquilo que seus olhos podem ver e suas mãos podem tocar. Esta é uma liberdade que não conhece as limitações do mundo, uma liberdade que o impele a coragem, transformando o medo do natural em um respeito profundo pelo sagrado e em ousadia para viver e proclamar as boas novas de Cristo.

Essa liberdade, então, não se prende às vaidades humanas ou à busca incessante por afirmações externas. Pelo contrário, ela rompe as fronteiras da superficialidade e transforma a vida do homem, agora despida do medo de ser verdadeiramente livre. A graça de Cristo concede ao homem a capacidade de viver, dia após dia, essa liberdade que não se ajusta às convenções mundanas, mas que encontra sentido na entrega e no amor a Deus. Em Cristo, o homem descobre que ser livre não é uma conquista mundana, mas uma doação diária ao propósito divino.

Por outro lado, o homem sem Cristo carrega o peso do medo de ser livre. Ele se agarra às coisas que o mundo oferece, teme se render a uma liberdade que ele não controla, que não se explica pelos sentidos. Ele busca segurança no que pode possuir, no que seus olhos podem ver e naquilo que pode mensurar. Há uma certa tranquilidade em crer apenas no que se vê, em sentir a segurança da matéria que o rodeia. Mas acreditar em Cristo exige algo diferente — exige uma confiança que desafia a razão humana, um passo de fé em direção ao invisível. Essa fé requer uma entrega que a visão humana não alcança completamente, um mergulho em uma realidade que não é evidente, mas que, paradoxalmente, é mais verdadeira que tudo o que é material.

É precisamente nessa tensão, entre o que é visível e o que é invisível, que o medo se instala. O medo nasce da insegurança e da tentativa de proteger a si mesmo, ele se enraíza no coração que busca se apoiar nas certezas mundanas. Quando o medo ganha espaço, ele clama por garantias e sustenta-se na ilusão de controle, até que o homem passa a viver segundo as regras ditadas por um mundo que é, em sua essência, finito e limitado. Preso a essas amarras invisíveis, o homem busca em coisas transitórias o consolo para uma inquietude que só poderia ser saciada pela eternidade.

O medo e a liberdade divina são forças opostas; elas não podem coexistir. Pois onde Deus habita, o medo se dissipa. A verdadeira liberdade, aquela que não cede diante das tempestades da vida, que não vacila perante as incertezas do mundo, é a liberdade que se encontra na rendição a Deus. Paradoxalmente, só pode viver em plena liberdade aquele que se “prende” à vontade divina. É nessa aparente prisão que o homem descobre a liberdade mais sublime, uma liberdade que não se apóia em posses, mas na certeza do cuidado divino. A liberdade em Deus não é a ausência de dificuldades, mas a coragem que brota em meio a elas, a paz que transcende o entendimento humano, a vida que se revela mesmo em meio ao vazio.

Esta liberdade, então, não é uma fuga, mas um encontro — um encontro com a nossa verdadeira essência. O homem, ao deixar-se guiar por Deus, experimenta uma liberdade que desafia todas as explicações, uma liberdade que o convida a deixar para trás o medo do mundo e a mergulhar na segurança da fé. Nessa liberdade, o medo de ser livre é vencido, e o homem descobre, enfim, que estar preso ao amor de Deus é ser liberto de todas as outras correntes.

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