A dor da ansiedade é como uma corrente invisível que aperta a alma e sufoca o corpo. Ela começa na garganta, como um nó que quer se desatar e ao mesmo tempo se retorce, uma força que age como se quisesse arrancar algo de dentro. A garganta, este limiar entre o dito e o não dito, se torna o palco onde a ansiedade começa sua jornada, uma tensão que vibra como uma palavra presa, um grito que jamais se libera. E então, como em um caminho que se abre dolorosamente, a força da ansiedade desce, deslizando até o estômago, onde finalmente se aloja, um ponto de chegada denso, pesado, que se fixa como uma âncora indesejada.
O estômago se transforma no recipiente daquilo que deveria ter sido expelido, mas que se volta contra o próprio ser. É o destino de uma energia que, ao invés de se expandir em liberdade, se recolhe e se condensa. A ansiedade se espreme em nós como um ser em metamorfose, como alguém que vive a expectativa de uma mudança profunda, mas que, em vez de caminhar para o novo, se retrai para o que é incerto, para o invisível. Ela é um estado de transição, uma constante tensão entre o que existe e o que não existe, uma ilusão que nos prepara para aquilo que não está lá, uma fantasia que nunca se materializa.
Esse itinerário da ansiedade é, de fato, um absurdo; uma força que desce para o estômago como se percorresse um mapa traçado pela própria psique. Mas se ela nasce na garganta, o que a origina? Será que é uma palavra não dita, um desejo contido, uma verdade que foi engolida e que, em vez de ser expressa, se converte em um peso? A ansiedade pode ser o refluxo de tudo aquilo que é nosso e que, por medo ou incompreensão, não liberamos. É a expressão engolida, a emoção que se volta contra nós, o desejo que, ao não encontrar vazão, se transforma em uma dor latente.
A palavra que quer ser dita, mas que se retém, parece se enroscar em nós como uma serpente interna, cada volta apertando mais, transformando-se em uma carga que pressiona o espírito e o corpo. Esse movimento de retorno, de engolir o que é próprio, cria uma distorção onde o natural se torna tortuoso. O que deveria fluir para fora, agora se volta para dentro, gerando um ciclo de tensão que não se dissolve. A ansiedade se torna então uma fantasia, um jogo de ilusões onde o futuro e o irreal se sobrepõem ao presente, uma preparação sem fim para aquilo que jamais ocorrerá, para o que nunca será reconhecido.
E nesse conflito entre o que se quer dizer e o que se engole, a ansiedade revela sua verdadeira face: um reflexo de tudo aquilo que reprimimos, de todos os momentos em que não nos permitimos ser. Ela é o preço que pagamos por cada palavra engolida, cada verdade escondida, cada desejo recalcado. É a força do inacabado, a angústia do não-vivido, um chamado para que voltemos a nós mesmos e liberemos o que está preso. A ansiedade, em sua essência, nos lembra que há algo dentro de nós que pede para ser exposto, uma realidade interior que, ao ser ignorada, se transforma em sofrimento, mas que ao ser acolhida pode finalmente encontrar paz.