Reflexões sobre Intolerância e Educação

Reflexões sobre Intolerância e Educação

Até o ano de 2008, o preconceito econômico e racial era, para mim, uma realidade distante, algo que existia no mundo, mas que ainda não havia tocado meus ombros com a brutalidade que eu viria a conhecer. Eu tinha a segurança da minha identidade e, até então, desconhecia a sensação de ser julgado e rotulado por aspectos que me eram tão naturais quanto a própria existência. Mas, ao ingressar em uma instituição de ensino, pude perceber que o preconceito não se escondia apenas nas entrelinhas da sociedade em geral; ele estava lá, naquilo que deveria ser um espaço de desenvolvimento humano e de expansão do pensamento, encontrando formas sutis e persistentes de se manifestar.

Foi nesse ambiente, onde eu esperava encontrar abertura e aceitação, que senti o peso das barreiras que tentam restringir quem somos. As marcas do preconceito foram se acumulando — não por algo que eu fiz ou deixei de fazer, mas simplesmente por ser quem sou. Minha cor, minha condição econômica e minha fé tornaram-se aos olhos de muitos uma espécie de demérito, uma base para julgamentos que não me conheciam além de estereótipos infundados. O preconceito racial e econômico não se expressou com palavras diretas, mas nos olhares, nas atitudes, na recusa velada em aceitar que alguém como eu pudesse ter um lugar legítimo naquele espaço.

E quando minhas convicções religiosas vieram à tona, o peso do julgamento se tornou ainda mais nítido. Ser evangélico parecia, aos olhos de alguns, um sinal de atraso, uma característica que não cabia naquele ambiente de saberes e ciências. Aos poucos, fui percebendo a intensidade da intolerância; parecia quase um desprezo silencioso, como se o valor de alguém fosse medido pela sua crença, pela sua visão de mundo, por aquilo que carrega como parte de sua essência. E a ironia se intensificava: eu, que gosto de livros, que trago comigo a paixão pela leitura, pela busca de conhecimento, era visto com desconfiança, como se minha sede de aprender não se adequasse ao estereótipo que insistiam em me atribuir.

Eu sou, e sempre fui, alguém que aprecia o conhecimento e a leitura, e essa paixão não se define pelo ambiente onde me encontro. Ela existe para além de rótulos e restrições, independentemente de qualquer instituição. A sensação de ser julgado por essa inclinação é paradoxal, uma vez que o amor pelo saber deveria ser uma qualidade bem-vinda em qualquer espaço educativo. Ainda assim, era visto com certa hostilidade, como se gostar de livros e ao mesmo tempo ser evangélico fosse uma contradição, um desvio que escapava às suas interpretações limitadas.

Aos poucos, o ódio se manifestou de maneira quase imperceptível, mas constante, corroendo a esperança de que o ambiente acadêmico fosse um lugar de verdadeira liberdade de expressão e de aceitação. E foi nesse contexto que ouvi uma frase que, à época, soou exagerada, mas que, com o tempo, passou a fazer sentido: “O pessoal mais sem educação é quem trabalha na educação.” O choque inicial deu lugar à reflexão. Comecei a perceber a verdade contida naquela afirmação, não como uma regra, mas como uma revelação das facetas do ser humano que se escondem por trás de títulos e cargos.

A ironia dessa situação é profunda. Em um ambiente que deveria ensinar valores, respeito e equidade, fui confrontado com o lado obscuro de uma pseudociência, uma visão preconceituosa disfarçada de crítica e racionalidade. Conheci, assim, uma face triste e sombria do ser humano, que, sob a capa da educação, escondia julgamentos e desprezo. Aquele espaço que deveria expandir os horizontes, revelar o melhor de cada um, trazia consigo as marcas do preconceito e da exclusão. Eu me vi diante de uma parcela da humanidade que, apesar de estar inserida no contexto do conhecimento, mostrava-se resistente à diversidade, incapaz de enxergar além das aparências.

Essa experiência abriu meus olhos para a complexidade do ser humano, para o quanto o preconceito pode se infiltrar até mesmo em lugares que deveriam ser de inclusão e valorização. No fim, permaneço fiel ao que sou e ao que acredito. Se há algo que essa jornada me ensinou, é que, diante do preconceito, a resistência e a dignidade são as armas mais poderosas. O conhecimento, a fé e a própria identidade são luzes que o preconceito jamais poderá apagar, por mais que tentem reduzir quem somos a rótulos que, de fato, não nos definem.

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