Quando nos mudamos de Vitória para Vila Velha em 1996, nossa família foi recebida com grande cordialidade e respeito pelo pastor João Torres. Ele, um homem de visão e generosidade, acolheu meu pai com honras, reconhecendo nele a experiência e o chamado pastoral que carregava. Mais do que palavras, o pastor João Torres demonstrou sua confiança ao nomear meu pai como o “segundo” da igreja — um termo utilizado na época para designar o co-pastor, aquele que estava ao lado do líder principal para apoiar e somar na condução da obra de Deus.
A igreja era de cor verde, um templo que abrigava a Assembleia de Deus que, outrora, havia sido uma congregação da Assembleia de Deus em São Torquato. Com o passar do tempo, a congregação foi emancipada, recebendo o nome de Assembleia de Deus em Santa Rita. Essa mudança marcava um novo capítulo em sua história, e nós, recém-chegados, passávamos a fazer parte de um ambiente que buscava firmar suas raízes e expandir seu alcance espiritual.
Eu, naqueles anos de transição entre a infância e a adolescência, não ministrei, não preguei e nem cantei naquela igreja. Minha participação era mais silenciosa, mas não menos marcante. Foi ali que entrei para a escola da banda de música da igreja, onde fui aprender a tocar trompete. As aulas eram também os ensaios, e, com esforço e dedicação, consegui me desenvolver de certo modo. Embora não tivesse um papel de destaque naquela congregação, aqueles momentos, entre acordes e partituras, ajudaram a moldar minha percepção sobre a beleza da coletividade e da harmonia dentro da igreja.
O pastor João Torres tinha grandes planos para o ministério de meu pai. Ele enxergava nele um líder capaz, alguém que poderia assumir a presidência da igreja no futuro. E essa intenção, embora ainda estivesse em seus primeiros passos, começou a ganhar corpo entre os membros da congregação. Porém, o reconhecimento e a honra que meu pai recebia não passaram despercebidos por todos. Como frequentemente acontece nas dinâmicas humanas, o ciúme encontrou espaço. Um obreiro, em particular, deixou que a inveja eclipsasse o espírito de comunhão, criando tensões que se tornaram insustentáveis.
Meu pai, homem de paz e discernimento, optou por não alimentar conflitos. Em vez de permanecer em um ambiente que começava a ser marcado pela rivalidade, preferiu deixar a igreja. Foi uma decisão difícil, pois ali havíamos sido acolhidos com carinho e respeito. Ainda assim, ele sabia que a obra de Deus precisa ser conduzida com integridade e serenidade, e que às vezes é necessário abrir mão de algo para preservar a unidade e a essência do chamado.
Eu, confesso, não tinha grande afinidade com aquela igreja. Talvez por conta da fase de vida que eu vivia, ou talvez porque minha conexão com aquele lugar nunca tenha se aprofundado de fato. Contudo, jamais poderia deixar de reconhecer o quanto meus pais foram honrados ali, especialmente por aquele que liderava a congregação. O saudoso pastor João Torres foi um exemplo de liderança generosa e visionária, alguém que sabia reconhecer os dons e talentos que Deus confia a cada servo. Ele não apenas honrou meu pai com palavras, mas com ações, demonstrando que a verdadeira liderança não teme compartilhar o palco, mas se engrandece ao valorizar os outros.
A lembrança daquele período permanece em mim como um testemunho do valor da honra no Reino de Deus. Mesmo em meio às limitações humanas, à inveja e aos conflitos que por vezes se infiltram nas relações, a honra que o pastor João Torres concedeu ao meu pai permanece como um marco de dignidade e respeito. Foi um capítulo breve, mas significativo, em nossa jornada de fé. E por isso, ao olhar para trás, posso dizer com gratidão: Glória a Deus!