A Iluminação Divina e a Dignidade Sacerdotal: Uma Chama Contra o Egoísmo

Em respeito ao sagrado sacramento da ordem, o desejo de perfeita iluminação é aqui invocado, a fim de que possamos reconhecer a dignidade sacerdotal na qual Deus nos colocou e que, em tal luz, se revele a grandeza espiritual a que somos chamados.

Sem essa iluminação que vem do alto, ficamos cegos diante da majestade divina, incapazes de reconhecer a honra celestial que repousa sobre nós, e, assim, deixamos de louvar e glorificar a bondade suprema que generosamente nos concedeu o dom da vocação. Sem a visão da luz, nosso espírito esfria, desnutrido de gratidão, e o amor, esse laço imortal que nos une ao Criador, enfraquece e se extingue. Pois quem não ama a Deus não lhe agradece, e quem não agradece, em verdade, ainda não despertou para o amor genuíno. É, pois, pela iluminação divina que somos reavivados, pois, nela, o amor é redescoberto e renovado.

O egoísmo, porém, ergue-se como uma árvore de raízes fundas, nascida do orgulho e da vaidade, alimentada pela falsa sensação de autossuficiência. O egoísta é presunçoso e surdo ao chamado divino. Seus frutos são amargos e letais para a alma. Alimentando-se desse fruto, o homem envereda por um caminho sombrio, onde o autoconhecimento, pai da humildade, é deixado de lado. E a humildade, sendo a raiz da caridade que tudo orienta, é onde se apoia o verdadeiro amor a Deus e ao próximo. Quem ama apenas a si mesmo permanece distante de Deus, separado da chama ardente do amor divino. Despojado da iluminação, o cristão que assim vive assemelha-se a um ser que apenas vegeta, sem alma nem propósito.

O verdadeiro cristão, no entanto, aquele que não renega o dom da razão, transforma-se em uma presença angélica sobre a terra. E os sacerdotes, chamados de ungidos por Deus, são designados para serem como anjos, não simples homens, ao servirem ao Altíssimo. Seu ofício é semelhante ao dos anjos, que estão a serviço de cada pessoa, guardiões celestiais que protegem e iluminam conforme a vontade divina. Igualmente, os sacerdotes distribuem o corpo e o sangue de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, cuja alma e corpo estavam unidos à divindade, em plena comunhão com o Pai. Que esse corpo e esse sangue sejam administrados por aqueles cuja alma arde com o amor divino, para que as almas não se percam no abismo. E esses sacerdotes, alimentados de virtudes, podem então alimentar as almas, oferecendo-lhes o fruto de um amor verdadeiro e santo.

Mas diferente é o destino daqueles que cultivam em si a árvore do egoísmo, cuja raiz está corrompida e cuja vida é contaminada. Quando os leigos ou pastores não cuidam da alma com zelo, abandonam-se às injustiças, guiam-se por impulsos e permanecem no escuro da ignorância. Tornam-se como feras que vagueiam, desprovidas de razão, e desprezam as virtudes que os ligariam a Deus. Mais grave ainda é quando obreiros e pastores seguem este caminho sombrio, negando a luz e traindo a própria missão. Em vez de pastores, tornam-se lobos que devoram o rebanho, e o castigo que acumulam para si está além das palavras. No juízo final, a alma provará as amargas consequências de sua cegueira e negligência.

E, contudo, eles acreditam estar no caminho do cristão, quando tudo neles está desordenado. Já não vivem para servir, mas para satisfazer-se, cercados por ornamentos vazios e fúteis prazeres. Onde deveriam existir orações, encontramo-lhes os ídolos, e, em vez da devoção humilde, enredam-se em ostentação e luxúria. A barreira entre eles e a justiça divina torna-se, a cada dia, mais tênue. A vara da justiça de Deus se estenderá sobre esses infelizes quando o fim chegar. Que trágico é o destino daqueles que recusaram ver o próprio egoísmo e arrogância, tornando-se insensíveis ao chamado da virtude.

O egoísmo é, portanto, uma árvore de frutos envenenados, que obstrui a graça e priva a alma da iluminação. Contra ele, o remédio é permanecer na cela do próprio coração, buscando em Deus o que em nós mesmos não podemos encontrar. Reconhecendo nossa pequenez e imperfeição, afastamo-nos da arrogância e nos revestimos da caridade, que é o manto indispensável para a vida eterna. Que a consciência, nosso cão de guarda interior, esteja sempre vigilante, latindo contra as tentações que chegam como inimigos para invadir nosso coração e alertando-nos sobre os falsos desejos que se disfarçam de bondade. Com a razão iluminada pela fé, podemos discernir o que é verdadeiro e bom, protegendo a cidade da alma e preparando-a para o crescimento na virtude.

Assim, ao afirmar no início o desejo de iluminação sacerdotal, buscava despertar nossa consciência e nos afastar do sono da negligência. Que sejamos anjos na terra, servindo ao Senhor com plena entrega e pureza de coração. Tudo o que há de bom vem de Deus, a eterna Verdade, e a Ele devolvemos toda honra e glória, pois Ele é o sustento e a razão de nossa existência.

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