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A eternidade suspensa no instante não vivido
Eu sou o que não disse. O que não ousou. O que hesitou no instante em que o tempo esperava uma resposta. Sou a presença oculta no peito não a ausência, mas o sopro sutil do que poderia ter sido. O encanto pendurado ao lado direito da alma, onde moram os pequenos milagres que se revelam apenas aos atentos. Fui mistério por um tempo. Depois, silêncio. Depois, lamento. Fui aquele que esperou tanto, que se esqueceu de notar que a espera tinha passado. O tempo havia dado sinais mas, por medo, fechei os olhos. Por medo, não telefonei. Por medo, calei. E esse medo me imobilizou tanto, que acabei por…
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O Peso da Palavra e a Aula que Silenciou
Como é bom o tempo de escola. Um tempo em que a maior preocupação era não ter preocupações. Mas aprendi, mesmo cedo, que quem não tem, sempre encontra. Eu encontrava na escola um lugar de fascínio, um universo onde a curiosidade era o ingresso para mundos que eu não conhecia. Sempre gostei de aprender, de sentar perto de quem sabia mais do que eu e beber da fonte do conhecimento. Que delícia era ouvir os professores falarem, compartilhando não apenas lições, mas fragmentos da vida. Acordava ansioso para chegar à sala de aula. Cada manhã era uma promessa de descoberta. Triste era quando as férias chegavam, trazendo uma pausa forçada…
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Renato e a Primeira Lição sobre a Fragilidade da Vida
Renato era o nome dele, meu colega de sala na primeira série do primeiro grau. Lembro-me de sua presença infantil, simples, tão parecida com a minha. A infância é um espaço de descobertas, mas também de ilusões, onde acreditamos que a vida é um fio inquebrável, imune às tragédias. Mas, em 1991, essa ilusão se desfez de forma abrupta e dolorosa. Foi em um dia qualquer, em casa, quando ouvi alguém falar — provavelmente minha mãe: “Renato morreu.” A frase, direta e sem alívio, me atingiu com um peso que eu, criança, não sabia carregar. Ele havia sido atropelado. Estava na rua principal do bairro Grande Vitória, pegando “ponga” na…