Memórias da Adolfina e da Rota que Mudou

Memórias da Adolfina e da Rota que Mudou

Era 1999, e eu estava na turma da então 8ª série da EEPG Adolfina Zamprogno. Sentava na frente, ao lado da Simone, uma menina inteligente e de conversa agradável. Naquele tempo, a sala de aula era mais do que um espaço de aprendizado; era um pequeno universo onde amizades, sonhos e descobertas compartilhavam o mesmo ar. Havia muitos colegas que marcaram minha vida: Márcio, que até certo ponto era meu “melhor amigo”, morava em Vila Garrido, numa casa à beira do morro, de onde se podia ver uma parte do bairro Pedra dos Búzios. Estive lá uma única vez. Era um lugar simples, mas a vista tinha algo de especial, talvez porque fosse o cenário de uma amizade que, para mim, parecia imutável naquele tempo.

Havia também o Wilson, o Alexsandro Melo, o Wadvan, a Tasciana, o Paulo Rogério, o Renan, e outros nomes que o tempo levou, mas que ainda habitam a lembrança como figuras de uma época inesquecível. Alexsandro Melo era um menino que se destacava. Ele tocava pandeiro como ninguém, e sua habilidade era admirada por todos. Era pardo, de cabelos claros e lisos, que caíam escorridos até o pescoço, e tinha uma leveza de espírito que fazia dele uma presença querida na turma. Nossa professora de História, uma senhora loira cujo nome a memória já não alcança, certa vez fez uma previsão: “O único que será famoso desta classe será Alexsandro Melo.” Talvez fosse uma brincadeira ou uma observação ingênua, mas para nós, adolescentes, aquilo parecia uma profecia. Alexsandro era o pagodeiro da turma, e sua música trazia alegria a todos.

A Adolfina Zamprogno era mais do que uma escola para mim. Suas paredes verdes, suas salas bem cuidadas, o ambiente vibrante — tudo fazia daquele lugar um espaço desejável, quase como uma escola privada, mas acessível. Era uma escola que eu havia desejado frequentar, e estar ali me preenchia de orgulho e pertencimento. Não era apenas um lugar de estudos, mas um território onde amizades e momentos inesquecíveis se desenhavam, marcando uma época em que a simplicidade da vida escolar carregava uma profundidade que só o tempo nos faz perceber.

Depois daquele ano, o fluxo da vida começou a separar os caminhos que antes pareciam entrelaçados. Alexsandro me acompanhou até o primeiro ano do Ensino Médio, mas depois de dois anos perdi o contato. Gostaria de revê-lo, saber onde a vida o levou, se o pandeiro ainda o acompanha e se a previsão da nossa professora de História se cumpriu de alguma forma. As amizades que formamos na escola têm um lugar especial na memória, mesmo que muitas vezes se percam na correria do tempo.

Revi Simone anos mais tarde, por acaso, no centro de Vitória, na Praça Oito, perto do ponto de ônibus em frente ao antigo prédio do Banco Real. Foi uma surpresa inesperada e cheia de nostalgia. Conversamos brevemente, como quem tenta resgatar um pedaço da história que ficou para trás. Ela me perguntou se eu era casado, se tinha filhos. Naquela época, minha resposta foi um simples “não”. Ela respondeu que também não. A conversa seguiu, e quando mencionei que havia feito Administração, notei um leve desencanto em sua reação. Ela disse que pensava que eu faria Direito, como se Administração fosse algo menor, algo aquém das expectativas que ela talvez tivesse sobre mim. Trabalhando em um escritório de advocacia, ela revelou que não havia feito faculdade, e comentou, meio casualmente, que todos os outros colegas que ela conhecia já estavam casados e tinham filhos, menos ela e eu.

Simone morava na rua principal de Vila Batista. Durante muito tempo, passei pela casa dela todos os dias. A rotina fazia do trajeto algo comum, e ela fazia parte dele, ainda que de forma indireta. Mas um dia, a rota mudou, como tantas vezes acontece na vida. Nunca mais a vi. Aquele encontro na Praça Oito foi o último, e nem mesmo guardei o ano ou a data. Ficou apenas a lembrança de uma conversa cheia de “e se…” e de um mundo que já não existe mais.

Essas memórias, por mais simples que pareçam, carregam o peso e a leveza de uma época que moldou quem somos. A Adolfina, seus corredores, os colegas, as amizades e até os encontros casuais nos anos seguintes formam um mosaico de pequenos momentos que, juntos, contam uma história maior. São essas lembranças que nos fazem olhar para trás com gratidão e, às vezes, com uma leve melancolia, enquanto seguimos pelas novas rotas que a vida nos oferece.

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