No Limiar da Esperança e o Chamado para a Luz

No limiar da esperança, pergunto: o que é, afinal, essa vida que vivemos? Somos jogados entre tantas mudanças, em meio a desgraças e bênçãos que se entrelaçam de forma caótica. Mas o que significa ser íntegro em uma sociedade que parece desintegrar-se a cada dia? Como cultivar valores em um ambiente onde a essência humana se dissolve? De que adianta planejar o futuro, se os projetos de tantos parecem caminhar rumo à própria ruína? E então me pergunto: o que posso transformar em mim que permita a mudança no outro? E no horizonte da vida, onde tantas respostas parecem fugir ao nosso alcance, ainda assim, eu pergunto.

Viver é mais que existir; é muito mais do que acordar e preencher os dias com atividades. Viver é respirar com propósito, mergulhar na presença de Cristo, e fazer do próprio ser um canal de vida para os outros. O mundo, com seu sistema de morte, sufoca os sonhos e paralisa os que ousam atravessar o vale das sombras. Mas atravessar essa escuridão não é coragem em si. É sabedoria reconhecer que existem lugares mais altos, onde a luz do sol ilumina e onde se pode ver com clareza.

O mundo e seu sistema funcionam como um vale sombrio — um vale de perda e morte, onde a visão se apaga e a paralisia toma conta. Quem perde a visão se afunda nas trevas; quem permite que a escuridão ocupe o próprio coração aceita, de certa forma, o mundo dentro de si. E ao fazer isso, decreta a própria sentença de morte. Não quero que a morte alcance todos; quero, ao contrário, que a luz do Evangelho ilumine de tal forma que cada ser possa ver e experimentar a verdadeira felicidade. Ser feliz, nessa perspectiva, não é se isolar da realidade, mas é habitar o mundo e separar-se da corrupção que o contamina, é viver em um ambiente envenenado e, ainda assim, manter-se puro. Isso é carregar a cruz. Isso é viver uma renúncia diária, exigindo esforço e uma escolha consciente.

Ter a luz significa clarear o espaço que tocamos, iluminar o pedaço de mundo onde vivemos. Essa é a luz que desejo: quero que essa luz esteja em mim, e quero também que todos possam ter essa luz. Que seja a luz da vida, a luz de Cristo, que ilumina sem destruir, que aquece sem consumir. Essa é a luz que o mundo precisa, a luz que não pertence ao sistema das trevas, mas à vida que jorra de Cristo.

Eu só desejo que as pessoas vejam. Que vejam além das sombras, que percebam o que é essencial, que experimentem a liberdade que essa luz traz. Porque ver é mais que enxergar com os olhos: é perceber com o coração e a alma, é discernir o que vale a pena, o que permanece quando tudo o mais se dissipa.

Que essa luz ilumine todos os passos, que ela nos conduza aos lugares elevados onde a vida verdadeira acontece, onde o eu se rende e o amor prevalece. E que, ao final, possamos todos viver com o entendimento de que fomos feitos para algo maior, para uma vida de luz que transcende a escuridão do mundo e transforma, com esperança, tudo ao redor.


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