A rejeição é uma ferida que não sangra. É uma pedra invisível lançada contra o peito, mas que reverbera na alma como um eco sem fim.
Rejeitar é um ato. Ser rejeitado é um abalo. Dois gestos, duas dores, duas margens do mesmo abismo.
O primeiro, aquele que rejeita, talvez nem saiba o peso que deposita no outro.
O segundo, aquele que é rejeitado, sente-se como algo descartado, lançado à deriva, deixado à margem, exilado sem sentença, sem palavra, sem rosto.
O sentimento de rejeição não nasce no vazio: ele floresce precisamente onde havia a intenção de permanecer, de fazer parte, de entrelaçar passos na mesma estrada. Só se sente rejeitado aquele que, antes, desejou pertencer. A recusa é a ruptura de um pacto que só um lado sabia que existia.
E então, algo terrível acontece.
A rejeição se abre como um portal. Um portal sombrio, silencioso, cruel.
Quem atravessa esse limiar, entra numa caverna existencial, uma morada construída para se proteger, mas que logo se torna uma prisão. Lá dentro, cria-se um mundo próprio: cheio de sistemas, de defesas, de ilusões necessárias. Uma arquitetura emocional onde, para sobreviver, é preciso fechar as portas da alma, desconfiar do sol, temer a brisa, suspeitar da mão estendida.
O estigma da rejeição passa a habitar o corpo como uma marca invisível. Não é preciso mostrá-la: ela é percebida no olhar, no gesto, na ausência.
O medo de novas feridas faz com que a caverna pareça segura. Lá dentro, a vida parece suspensa e o perigo, mantido à distância. Afinal, os animais selvagens que rondam a entrada da caverna têm rosto humano: falam a mesma língua, andam nas mesmas ruas, sorriem com os mesmos lábios que ferem.
Não tenho fórmulas mágicas.
Não ofereço sistemas prontos para a travessia de volta.
A vida não se dobra a simplificações, e cada alma rejeitada é um universo em ruínas que não se reconstrói com receitas.
Mas há um princípio silencioso que precisa ser sussurrado:
É preciso encontrar fundamentos mais profundos do que aqueles que nos feriram.
É preciso edificar, no subterrâneo da alma, pilares que não tremam ao sopro das rejeições humanas.
Romper a linguagem que nos condena.
Romper as atitudes que nos enclausuram.
Romper o medo de existir diante daqueles que nos preferiram ausentes.
Porque, no fundo, a vida espera, sempre espera, à porta da caverna.
Com paciência infinita, ela aguarda o dia em que deixaremos de ter medo dos lobos, e voltaremos a caminhar sob o céu aberto.