A imagem de algo grandioso sempre desperta em nós um misto de assombro e reverência. Quando Deus nos chama para realizar uma grande obra, nossa imaginação tenta construir uma visão imensa, algo que transcenda nossos próprios limites. E, no entanto, ao tentar vislumbrar o que é infinito, permanecemos confinados nos contornos de nosso próprio imaginário. É como tentar abarcar o horizonte — quanto mais nos estendemos, mais percebemos a vastidão que ainda nos escapa.
Isaías, em seu tempo, foi convocado a cumprir uma obra monumental. Sua missão era despertar Judá, arrancá-la da complacência e trazer uma mensagem de advertência que a impelisse ao arrependimento. Em meio a uma nação voltada aos próprios desejos, seria mais fácil proferir palavras que confirmassem suas escolhas, que alimentassem sua marcha já em curso. Mas Isaías, ao contrário, parou essa nação e disse: “É preciso recuar, é preciso corrigir o caminho.” Isso exigia uma coragem singular, pois advertir é frustrar o que está em movimento, é forçar uma pausa onde o impulso insiste em prosseguir.
Toda palavra que adverte é, em sua essência, um convite para abandonar a zona de conforto. Nossa sociedade, tal como a Judá de Isaías, resiste a essas palavras, pois elas carregam o peso do despertar. Preferimos o caminho da menor resistência, da conveniência que nos permite seguir sem questionamento. A vida moderna valoriza o que é fácil, a praticidade que nos afasta de qualquer complexidade, e isso se estende ao nosso entendimento da espiritualidade e dos valores morais.
Hoje, os valores bíblicos se tornam irrelevantes naquilo que chamamos de “sociedade cristã”. O presente se torna mais desejável do que Aquele que presenteia, pois o doador carrega uma vontade própria, exige de nós uma resposta. O presente, o objeto em si, não tem exigências; ele se acomoda aos nossos desejos, nos oferece um prazer sem desafio, um ganho sem reflexão. Na sociedade que idolatra o presente, não há lugar para o encontro, pois o encontro exige responsabilidade e resposta.
O cristão inserido nessa cultura tem, então, um papel singular: conhecer as forças que moldam o mundo e, ainda assim, aprender a nadar contra a correnteza. Não somos chamados a acelerar a marcha do mundo rumo ao vazio, mas a oferecer um convite à pausa, uma oportunidade para que a sociedade reveja seus conceitos e reavalie seus propósitos. Este chamado não é um ajuste superficial, mas uma proposta de conversão, de virar-se para o que é eterno e verdadeiro, para a luz que transcende o imediato.
Esse movimento é mais que resistência; é um testemunho da necessidade de uma parada reflexiva. Porque o verdadeiro caminho não é o de seguir cegamente o que nos satisfaz, mas de questionar o sentido do próprio caminho. Ao remarmos contra a maré, trazemos uma palavra que não impulsiona o mundo à sua própria ruína, mas o chama a enxergar sua própria condição e a redescobrir um propósito maior. A grande obra, então, não é de expansão, mas de profundidade — um convite a reorientar a vida para o que realmente importa, para a verdade que exige e transcende.