Ser escolhido como o provisório pode parecer, à primeira vista, uma sentença de insignificância, uma posição que sugere substituibilidade, uma espera amarga até que o definitivo ocupe seu lugar. Contudo, essa visão superficial ignora a profundidade do gesto envolvido. Há uma sabedoria oculta em aceitar o papel provisório, em reconhecer o chamado que ele implica. Pois, por trás da aparente transitoriedade, há uma escolha — e escolhas nunca são neutras. Ser o provisório, quando compreendido em sua essência, é revelar uma força que o definitivo raramente possui.
O provisório não é apenas a ausência de algo melhor; é a presença de uma coragem que se recusa a recuar diante da incerteza. Ser escolhido como provisório significa que, em um dado momento, você se apresentou como a resposta, mesmo que temporária, para um vazio que não podia permanecer. E aceitar essa posição revela mais sobre quem você é do que sobre quem o escolheu. Aceitar o provisório é um ato de resistência contra o medo da impermanência; é um sinal de que, mesmo sem garantias de glória, você se dispôs a estar onde era necessário.
Talvez a escolha recaia sobre você por falta de outras opções, mas o que isso realmente significa? Talvez ninguém quisesse o lugar, talvez ninguém se julgasse capaz de assumir o risco. Mas você disse “sim”, e este “sim” ecoa como uma afirmação de vida. Ele diz: “Eu sou capaz de enfrentar as circunstâncias adversas, mesmo que nelas não haja promessas de reconhecimento ou aplauso.” Esse ato não é uma renúncia ao valor próprio; é, ao contrário, uma afirmação silenciosa de que o valor não precisa de status para existir.
O provisório é também um espaço de transformação. Ele não é uma prisão, mas um campo de possibilidades. Ao assumir essa posição, você não está apenas ocupando um lugar — você está moldando-o. O provisório não é menos digno, menos significativo, porque nele está a semente daquilo que pode vir a ser. Ele carrega em si uma liberdade singular: a de ser uma obra em construção, uma potência em ato. Quem se lança ao provisório não teme o julgamento do momento; antes, desafia a si mesmo a transformar o transitório em algo que transcenda.
Ser provisório, afinal, não é ser pequeno; é ser um ponto de apoio que sustenta o peso da espera, da dúvida e da necessidade. Não é se esconder na sombra do definitivo, mas erguer-se como o que é possível no agora. E isso exige uma força rara, pois o provisório não ostenta medalhas nem oferece garantias de duração. Ele é, muitas vezes, o que sustenta o que está por vir, mesmo sem a promessa de permanecer.
E, no fim, o provisório não é apenas um papel passageiro; é uma lição de vida. Ele ensina que o valor não está em ser definitivo, mas em ser presente, em aceitar o chamado mesmo quando ele parece modesto, em ser a resposta mesmo quando ela é temporária. Pois, em última instância, o definitivo não é nada sem o provisório que o antecedeu. Aceitar o provisório é um ato de coragem, e coragem é sempre definitiva.