Meu mundo é o caos, uma vastidão de desordem onde tudo se perde e se dissolve. É a deformação à vista, a água que corre sem direção. Nesse mundo, não consigo distinguir objetos, não há linhas ou horizonte; apenas um vazio nebuloso onde o sentido se esvai. A cada olhar, vejo apenas a desordem, uma paisagem que arranha o céu da minha imaginação e me torna estrangeiro em mim mesmo.
Nesse caos, começo a parecer um Leviatã, perdido no abismo de minha própria existência. O caos me rouba o sentido, pois ele é, em sua essência, a ausência de sentido. O caos apaga meu rumo, pois ele é a falta de direção. Ele consome minha esperança, porque o caos é o desespero tornado forma. No caos, deixo de imaginar, e sem imaginação, perco minha arte; sem arte, torno-me vazio. O meu mundo se converte em um deserto sem contornos, um vazio que não sabe o que busca.
Esse vazio profundo, paradoxalmente, incita uma busca por algo que o preencha, mas como preencher o que já não reconhece forma? Como saciar um espaço onde tudo é sem contorno, sem delimitação? É minha própria limitação que impede o preenchimento; ao tentar entender a natureza do vazio, sinto que perco a própria condição de ser. E então me pergunto: como posso existir se já não sou? Ser e não-ser se confundem, e o caos toma não só minha imaginação, mas também a lógica que me define.
Talvez, no caos, eu exista, mas não seja real. A existência sem forma é uma presença que flutua, que não se ancora. Talvez o caos seja exatamente isso: uma existência sem realidade, um ser que espera pela forma para finalmente se manifestar. Talvez, em muitos mundos, hajam pessoas que existem sem ser reais. E então eu pergunto: você existe? E você é real?
Nas Escrituras Sagradas, lemos que, no princípio, a terra era “sem forma e vazia”. Somos, cada um de nós, como essa terra. “Do pó da terra foste criado, e ao pó da terra voltarás.” Somos pó, uma matéria sem forma e sem preenchimento. Como a terra, existimos em nossa natureza inicial sem contornos, esperando a ordenança do Eterno para sermos moldados. É a vida, convocada pelo sopro divino, que traz forma ao pó, contornando-o, moldando-o em uma escultura viva. Mas a forma, por si só, ainda é insuficiente; é o primeiro passo para se livrar do caos, mas permanece vazio até que o Espírito lhe conceda plenitude.
O Espírito de Deus, pairando sobre a face das águas, é o movimento que traz forma ao informe, o alento que preenche o vazio. O Espírito molda-se às formas, penetrando-as e preenchendo-as. O mundo, ao receber suas formas, clama por preenchimento; a terra, ao ser moldada, busca as sementes. Assim é o homem: criado do pó, ele busca o preenchimento, uma plenitude que só o Espírito de Deus pode conceder.
O homem sem o Espírito é caos. Ele tem a forma, mas permanece vazio. Para que o Espírito preencha o ser humano, este precisa de limites. A forma implica delimitação; o homem precisa de começo e fim, precisa conhecer seu território, suas fronteiras. E é a Lei do Senhor que estabelece essas delimitações, que nos forma, que nos ensina a conhecer nosso espaço interior e exterior.
Quando alcanço essa forma, quando sou cheio e conheço o território de minha alma, o caos se dissipa. A ordem, então, emerge, e com ela a harmonia. A harmonia é a essência da arte, pois não existe verdadeira arte sem a disposição das formas e o preenchimento adequado. Somente quando as formas e o preenchimento se encontram, a harmonia se realiza, e a harmonia é a expressão máxima da arte. Onde há harmonia, o caos deixa de existir; onde existe a arte, o caos se dissolve.
O Espírito, onde está, traz vida. E a vida gera limites, pois a liberdade verdadeira só existe no contexto da forma e da delimitação. Onde há o Espírito, há liberdade. Já não sou dominado pelo caos, pelo vazio, pela deformação. A vida, manifestada no pó da terra, transforma o informe em ser, o caos em criação.
Minha arte é vida, minha arte é harmonia!
Ola Thiago!
Visitando blogs para divulgar o nosso Genizah encontrei o seu espaço. Supresa boa. Ótimo material inédito e bons posts em geral. Parabéns.
Aproveitamos a oportunidade para convidá-lo a conhecer o Genizah, um blog que faz apologética com muito humor, oferece textos inéditos de grandes autores e dá bom combate na heresia e nos modismos que tanto mal andam fazendo à difusão do Evangelho puro!
Vejo você por lá e já estamos lhe seguindo.
Paz e Bem.
Danilo
http://www.genizahvirtual.com/