Há histórias que se costuram com detalhes tão singelos quanto inesquecíveis: um teclado, uma avenida, uma porta que se abria para a ação, bancos de madeira simples, uma menina e sua irmã que amavam as canções da Cassiane. Fragmentos de um tempo em que a simplicidade carregava uma profundidade quase poética. Entre tudo isso, havia o “Hino do Vitória”, que se tornava o centro das celebrações, ressoando como a alma de um lugar onde a música era mais do que melodia — era a própria expressão da fé e da comunidade.
Naquele cenário, havia também um diácono que tinha um jeito peculiar, quase como um padre, com uma serenidade que parecia marcar sua presença. Ele era uma dessas figuras que, mesmo sem grandes palavras, deixava uma impressão duradoura. E havia o presbítero Paulo, um homem cuja presença era um alicerce na obra de Deus, um companheiro fiel de meu pai durante os dias da igreja no bairro Vila Batista. Isso era em 1999, um ano que ainda ressoa em minha memória como uma época de encontros marcantes e de aprendizados que o tempo não apaga.
Uma dessas lembranças me leva a Vila Garrido, onde o presbítero Paulo morava com sua família. Seu filho, Abimael, tornou-se meu parceiro em um momento específico e especial: formamos uma dupla musical. Não éramos grandes artistas, mas tínhamos o coração voltado para a música e para a mensagem que queríamos transmitir. Juntos, cantamos uma única música: “Para Não Esquecer”, do grupo Novo Som. E, ainda que nossa parceria tenha sido de uma canção só, ela foi suficiente para criar uma memória que, até hoje, guardo com carinho.
Abimael e eu éramos mais do que cantores de uma apresentação única; éramos reflexos de um tempo em que cada pequena ação carregava um significado maior. O som do teclado, as canções que preenchiam os bancos de madeira, a vibração do “Hino do Vitória”, e até os momentos de descontração formavam um tecido rico de experiências que marcavam não apenas o presente, mas o futuro. Eram tempos em que as vozes se uniam e os corações se conectavam, mesmo que por breves instantes.
A música, a comunidade e as pessoas criavam um sentido que ia além do imediato. O presbítero Paulo, com sua dedicação, não era apenas um companheiro de meu pai; ele era um exemplo de como o serviço a Deus e à igreja pode ser uma jornada compartilhada, onde o apoio mútuo se torna a base para enfrentar desafios e celebrar vitórias. Sua presença e de sua família eram parte fundamental daquela época, um pilar que sustentava não apenas a igreja, mas as relações que dela emergiam.
Essas lembranças não são apenas ecos do passado; são sementes que continuam a germinar no presente. Um teclado, uma avenida, bancos de madeira, e uma música chamada “Para Não Esquecer” — tudo isso se transforma em um mosaico de memórias que, mesmo aparentemente pequenas, carregam uma profundidade imensa. Elas me lembram que a vida é feita de momentos como esses, onde o ordinário encontra o extraordinário, e o que parecia ser apenas uma dupla de uma música só se transforma em uma história que o tempo não consegue apagar.