Estou distante, do outro lado, sem ponte, contemplando um horizonte que parece fora de alcance. É uma linha difusa, que reverbera minha vontade, onde o desejo pulsa, mas permanece recontido, como se estivesse enredado em desilusões e entrelaçado em vislumbres. É o vislumbre de um futuro generoso e caloroso, um amanhã que acena com promessas de afeto, empatia e liberdade. No brilho desse futuro, sinto o calor de um afeto profundo, um ser completo, uma liberdade que não é apenas movimento, mas também uma quietude interior.
Há em mim o desejo de ser livre, de caminhar por caminhos desconhecidos e, ao mesmo tempo, de me guardar, de preservar o que há de mais íntimo. É um anseio por uma luz interna, um desejo de iluminar-me e, quem sabe, iluminar o caminho dos outros. Mas o horizonte, ainda que cheio de promessas, é uma obsessão que desafia, como um sonho que se dilacera ao toque, uma miragem que desaparece quando se tenta agarrar.
O vento sopra, trazendo com ele o milagre de ser. É um vento leve, mas persistente, que nos lembra que, mesmo sem ponte, mesmo distante, há uma essência que atravessa a distância. Esse vento carrega a promessa do reencontro, da unidade, do simples ato de existir. O milagre não está apenas em alcançar o horizonte, mas em ser, em permanecer fiel a si mesmo, em encontrar na própria jornada o calor que buscamos além. É o milagre de ser, de sentir a liberdade como um estado de espírito, de saber que, mesmo do outro lado, há uma força que nos une a tudo.