A ilusão poética do 3 mais 9 é a esperança de quem acredita poder refazer movimentos que, no tempo, já se tornaram definitivos.
Mas o tempo não retrocede.
Ele desliza sobre trilhos invisíveis, em velocidade constante, sem freios, sem paradas, sem possibilidade de reembarcar na estação que ficou para trás.
Tudo acontece em movimento.
Entradas e saídas se dão em plena corrida. E quando algo é perdido, não há recuo possível, apenas a memória permanece, como uma fotografia embaçada.
Assim, alguns gestos, palavras e olhares selam nossa impossibilidade de reconstrução.
O pedido feito.
A aceitação silenciosa.
A entrada na sala, o olhar cruzado à direita — onde, sentada, estava ela: a promessa de algo transcendente.
A porta que se abre, aquela visão súbita, envolta em moletom, protegendo a imagem inacessível, traz por instantes a doce ilusão de que ainda se pode recomeçar.
De que o amor, velho conhecido, pode ainda ser novo.
Mas essa esperança está condicionada ao conhecer, e o conhecer, quando acontece entre dois mundos separados por abismos invisíveis, não basta.
O velho sonho renasce: o desejo de que o significado resida ali, naquela figura breve que se insinua na porta.
E tudo parece um sinal:
O encontro inesperado, o toque da emoção em uma palavra dita, a expectativa ansiosa por uma simples postagem.
A alma entra em expectativa, em sobressalto, como se a vida, naquele instante, pulsasse de novo em sua veia mais profunda.
Quer-se tomar as rédeas do presente para domesticar o futuro.
Quer-se controlar o incontrolável, armazenar o que é apenas sopro.
Mas a vida, sábia e cruel, não se deixa governar.
A realidade, então, se impõe.
A tecnologia, que outrora prometeu aproximação, revela agora distâncias abissais:
A realidade do condomínio fechado.
O sol impiedoso de Brasília.
A facilidade de quem pode pagar para que limpem a própria sujeira, enquanto repousa no luxo silencioso de um quarto climatizado.
E você, que nasceu antes, que caminhou por estradas mais ásperas, percebe o fosso intransponível que separa gerações, não pela idade, mas pelo modo de existir.
No fim, entende-se:
Não se trata apenas de conhecimento, de afinidades, de histórias parecidas.
O que separa são as ligas invisíveis do poder: o dinheiro que lubrifica a vida fácil, a ausência da luta, a leveza superficial de quem pode viver um filme romântico sem precisar escrever o roteiro com esforço e dor.
O amor, nesse mundo, é uma moeda trocada nos corredores de um condomínio de luxo.
E o que poderia ser encontro, torna-se apenas mais uma vitrine:
Stories esvaziados, corpos exibidos em paisagens impecáveis, sentimentos enclausurados pelo preço que podem pagar.
Assim, o amor que pulsava se desfaz como névoa.
E o 3 mais 9, aquela velha soma de esperança, não passa de uma ilusão poética, que tentou por um instante esticar a linha do tempo, mas foi vencida pela gravidade inevitável da realidade.