O Amor que Alcançou a Perfeição e se Autodestruiu

Um amor perfeito, feito em sua totalidade, pleno, exposto ao mundo em toda a sua força e vulnerabilidade. Um amor cheio de vida, de ser, regado pela paixão que parece não ter fim. Mas será que tamanha completude pode realmente perdurar? Será que, ao alcançar o ápice, não deixa atrás de si um vazio, uma ausência impossível de preencher? A inquietude espreita, e o desejo de perfeição transforma-se em um labirinto onde o amor, tão completo, torna-se imóvel, como uma estátua fria e inflexível diante da perenidade.

Há algo de inquietante nesse amor idealizado, que não admite falhas, que aspira a um estado permanente. A perplexidade diante do que não muda, do que continua estático, acaba por sufocar o espírito que antes se exaltava em liberdade e descoberta. O glamour do início se esvai, a estabilidade se desmorona, e a razão já não encontra lugar para se apoiar. Esse amor, que era para ser plenitude, agora se depara com a solidão das noites onde só resta a convulsão do rancor, a náusea de um sentimento que já não encontra seu reflexo no outro. Ele se perde, exposto, como um fenômeno nostálgico, repleto de desejos não realizados e promessas quebradas.

O coração, ansioso por um amor que transcenda a superficialidade, que toque as profundezas da existência, acaba se confrontando com sua própria ganância emocional. Ele queria pulsar em uníssono com o absoluto, mas agora se vê desmoronar, aprisionado por um ideal inatingível. O amor, de tão perfeito, alcança o solo sagrado da impaciência, da decepção, e se autodestrói. É um amor que se corrompeu ao amar demais, que se iludiu ao doar-se inteiramente, imaginando que a energia vital da paixão jamais o abandonaria.

Esse amor, que aspirava à eternidade, não pôde sustentar-se na realidade. Em sua busca pela perfeição, esgotou-se, sufocou-se. E assim, ele deixa uma lição sutil: que o verdadeiro amor não é aquele que se constrói em bases imutáveis e absolutas, mas o que flui e aceita as imperfeições. Pois o amor que exige perfeição é o mesmo que, ao alcançá-la, se perde na solidão e na desilusão.

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