O Encontro na Perda: Entre Fantasmas e Revelações

Te busco com a intensidade de quem sente que cada instante é único e irrepetível. Na tarde, quando a energia ainda pulsa viva, teu rastro parece mais próximo; de madrugada, ela se expande como o céu noturno, vasto e insondável. Ao amanhecer, na calmaria da primeira luz, tua presença se renova, se recria — uma promessa de algo que, mesmo no constante renascer, permanece velado, aguardando o instante certo para se revelar.

Os fantasmas que surgem são como sombras vegetais, formas que rompem o tecido da realidade, que carregam a estranheza de um mundo onde o visível e o invisível coexistem. A realidade se aglomera, fragmentada, e o irromper das águas em correntes e redemoinhos torna-se nítido, como se o próprio movimento da vida mostrasse suas raízes. No fundo dessas águas cristalinas, escondido como um segredo primordial, repousa o mistério da escuridão, um plasma invisível que não se deixa ver, mas que sugere o que está por vir. Há um mistério que se conserva, uma revelação que se adia, algo que, ao permanecer oculto, nos ensina a buscar mais fundo.

Perder é talvez uma forma perfeita de se reencontrar, um processo pelo qual o que era já não é, algo que se vai e deixa em seu rastro uma nova possibilidade. Perder é uma forma de renunciar ao que um dia foi, de aceitar que há momentos em que, ao nos desapegarmos, nos aproximamos do essencial. Quando algo se esvai de nosso controle, torna-se perda; mas se o que perdemos nos mantinha aprisionados, então essa perda é uma libertação, uma forma nova de ganho, uma revelação do que realmente importa. Eu me vejo a perder — perdendo a admiração das pessoas, o brilho do encanto inicial, o ambiente que, um dia, foi nosso.

Agora, os fantasmas retornam, mas vêm de forma diferente; não mais como vegetais silenciosos, mas como animais racionais, figuras que carregam uma nova consciência, um espelho do que fomos e do que tememos ser. Eles são os ecos de um passado que ainda pulsa, que, ao mesmo tempo em que se distancia, nos desafia a entender o que ainda é necessário abandonar e o que vale a pena preservar. Estes fantasmas, que agora se apresentam com a lucidez de quem enxerga o invisível, nos convidam a refletir sobre o que é verdadeiramente nosso e o que é apenas a ilusão do apego.

A perda se torna um caminho, uma travessia onde o que se vai deixa espaço para o que realmente é. E, ao perder o que um dia pareceu fundamental, encontro em mim o que permanece, o que pulsa silenciosamente na escuridão.

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