Transições são tempos de movimento e inquietação. Elas nos afastam do conforto do conhecido e nos lançam no turbilhão do incerto. Era exatamente assim que me sentia: desorientado, cheio de perguntas que pareciam ecoar sem resposta. Minhas orações eram constantes, mas os céus permaneciam silenciosos. Cada dia parecia um mergulho mais fundo em uma névoa de dúvidas e hesitações.
Era uma tarde como tantas outras, mas que se tornaria inesquecível. Aproximadamente às quatro da tarde, eu caminhava pela calçada próxima ao Palácio Anchieta. O sol começava a inclinar-se, tingindo o céu de tons mais suaves, mas dentro de mim, não havia suavidade, apenas uma tempestade de pensamentos. Atravessava aquele espaço como quem transita entre mundos — a Praça Oito atrás de mim e o Parque Moscoso à frente, cada passo carregado de incertezas.
Lembro-me de que, naquela época, talvez ainda existisse a loja da Lauriete, a Lauriete Music, um marco naquelas redondezas. Enquanto caminhava, perdido em minhas preocupações, algo inesperado aconteceu. Um vento soprou, vindo contra mim. Não era um vento forte, mas tinha uma direção, como se soubesse exatamente onde queria chegar.
Junto com o vento, um folheto veio flutuando. Parecia uma folha seca, carregada por uma força que não era sua. Girava no ar, oscilando entre subir e cair, até que, como se obedecesse a um comando, parou à altura da minha perna. Não caiu no chão; parecia estar ali à minha espera. Instintivamente, estendi a mão e peguei o folheto.
Era um simples pedaço de papel, algo que poderia facilmente ser ignorado. Mas naquele instante, ele se tornou uma resposta. Li as palavras que ele trazia, e elas foram como uma flecha que atravessou minha alma. Não me lembro exatamente do texto, mas lembro da mensagem que dizia, de forma clara e direta, para confiar em Deus e não temer o futuro.
Foi como se aquele pedaço de papel tivesse vindo do próprio coração do vento, soprando não apenas para a calçada, mas diretamente para dentro de mim. Naquele momento, não consegui conter as lágrimas. Aquelas palavras não eram apenas um texto impresso; eram uma resposta, uma intervenção divina em meio à minha tempestade interior.
Chorei ali mesmo, parado na calçada, sem me importar com quem passava ao meu redor. Chorei por alívio, por gratidão, por finalmente sentir que Deus estava me ouvindo, mesmo quando eu achava que Ele estava distante. Aquele vento não era apenas um movimento do ar, mas o sopro de uma presença maior, um toque gentil que me lembrava de que eu não estava sozinho.
Depois de ler o folheto, guardei-o, não apenas no bolso, mas no coração. Ele se tornou um marco, um sinal de que, mesmo em meio às transições e incertezas, Deus sempre encontra uma forma de falar conosco. Às vezes, Ele usa o vento. Às vezes, um pedaço de papel. Mas sempre, Ele nos alcança.