O Palco na Rua

O Palco na Rua

O Palco na Rua

Era um dia de junho, provavelmente um sábado, por volta das seis e meia da tarde. A rua era a da casa da minha avó, mas naquela tarde eu a reconhecia como sendo a rua da casa da minha tia Preta. Estávamos na década de 90.

No meio da rua, bem em frente à casa, um palco havia sido montado. Era um palco simples, improvisado. Dois homens faziam a passagem de som. Eu fiquei empolgado. Nunca tinha visto um palco de perto. E ali estava ele, como se tivesse vindo até mim.

Não havia luzes fortes nem grandes equipamentos. Mas havia encantamento.

Dois homens, cujos nomes nunca soube, deram início ao que me pareceu um gesto mágico. As horas passaram sem que eu percebesse. Quando notei, a noite já havia chegado, provavelmente depois das sete e meia. Eles estavam lá em cima, e eu cá embaixo, sentindo o frio que percorria a rua, com os olhos atentos.

Tinham cabelos compridos, calças apertadas e cantavam como Zezé Di Camargo e Luciano. Aquela música, que até então não fazia sentido para mim, naquele momento se tornou memória.

Marcou. Marcou aquele dia. Marcou a minha lembrança.

Hoje, quando volto no tempo, vejo tudo como um filme. Eles sobre o palco. Eu observando. Não me recordo quem estava ao meu lado, mas havia pessoas. Talvez mais de setenta. Não eram muitas, mas para meu olhar de criança também não eram poucas. Eram apenas pessoas, envoltas no mesmo frio, tentando aquecer-se com aquele instante.

E lá estavam eles, a dupla sertaneja cover, cantando para todos nós.

E cantando para mim.

E ficou em mim até hoje.

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