Há uma diferença fundamental entre vocação e chamado. A vocação reflete uma habilidade natural, uma inclinação intrínseca para determinada atividade ou para liderar pessoas. Pode-se ser vocacionado para a liderança sem que haja qualquer inclinação para o sagrado; exemplos históricos de figuras como Hitler, Mussolini e Mao-Tsé Tung ilustram essa distinção. Eles possuíam, de fato, uma vocação inegável para liderar, mas não traziam consigo a marca de um chamado divino, uma vez que não serviam a uma causa transcendente. A vocação, assim, se firma nas aptidões e habilidades individuais, e não necessariamente em um propósito divino.
O chamado, entretanto, transcende a vocação. Deus não escolhe apenas aqueles que possuem uma habilidade natural; Ele chama quem quer, segundo os Seus propósitos e para a Sua obra. Moisés, Jeremias e Paulo exemplificam essa verdade: cada um, à sua maneira, hesitava ou se via inadequado. Moisés não era um grande orador, Jeremias se via como uma criança despreparada, e Paulo tinha um passado marcado pela perseguição ao cristianismo. Mesmo assim, Deus os chamou e, com o chamado, conferiu-lhes os dons necessários para realizarem o propósito designado. Com Deus, o essencial não é a habilidade natural, mas a entrega e a disposição para servir.
Quando se tem vocação, mas não o chamado, o ministério pode ser reduzido a uma ocupação profissional. O obreiro vocacionado, sem o sentido de missão divina, busca a aprovação pessoal e a aceitação pública, medindo o sucesso por critérios humanos. Já aquele que é chamado por Deus tem um compromisso maior: ele se vê compelido a cumprir a missão divina, independentemente de recompensas terrenas ou da aceitação alheia. O verdadeiro chamado carrega em si uma fidelidade que não depende do aplauso ou da realização pessoal; seu único objetivo é cumprir a vontade de Quem o chamou, ainda que seu trabalho não seja visto como um sucesso aos olhos humanos.
A vocação é uma habilidade; o chamado, um propósito. E, no serviço a Deus, é o chamado que marca a diferença, elevando a missão a um plano em que o que realmente importa é a fidelidade ao Supremo Chamador.