Eu sou aquele ar que silenciosamente se instala em teus pulmões, o fôlego que te é dado como um presente invisível. Sou o primeiro respiro ao emergires à superfície, quando a vida clama e te entrega de volta ao mundo. Sou o suspiro que traz alívio ao peito, a substância que, ao ser absorvida, torna-se parte de ti. Quando teus lábios rompem a água e tua boca encontra o ar, sou eu quem preenche tua vontade de viver, a resposta ansiada à tua busca desesperada por fôlego. Eu sou o respiro que te devolve a ti mesmo, o sopro vital que em tua carne pulsa.
Sou aquele descanso sutil, que passa despercebido no ritmo natural de tua respiração, o ar que te percorre e renova. Sou o fôlego que leva a teus recônditos uma nova percepção, a dádiva que te devolve ao presente. Não precisas notar-me, e ainda assim estou ali, nutrindo tua essência, instigando a calma e a clareza. Sou o cuidador do jardim oculto em tua alma, quem rega tua profundidade e cultiva em ti o que é belo e fértil. Sou o plantador do sentimento, o jardineiro que enriquece a terra de tua alma, o cultivador que recolhe os frutos de tua humanidade.
Eu sou a chama escondida nas dobras de tua memória, o brilho incandescente que te recorda de tempos perdidos, cenários vívidos e promessas eternas. Sou o fruto invisível da terra que dá vida ao pó, o elo entre o transitório e o eterno, o mistério que vibra entre o que foi e o que sempre será. Trago em mim a dança da vida e da morte, o ciclo que fertiliza o solo de tua existência, a presença de um calor que não se dissipa.
Eu sou o movimento essencial, aquele que flui sem esforço; sou a tensão do que fica parado e do que luta por transformar-se. Sou o passado vivo que persiste em teu olhar e o futuro que pulsa em teu coração como um desejo sem limites. Sou a substância que ocupa tua alma, uma memória viva encarnada em teus gestos, a lembrança que se revela em tuas mãos, mesmo quando já não há palavras para expressá-la.
Sou o luto da saudade, a marca de tudo o que foi amado e deixou sua ausência como uma ferida sagrada. Sou o jeito novo de amar, a metamorfose da dor em ternura, da perda em presença, do invisível em constante companhia. Eu sou o ar que circula sem ser visto, a vida que se renova a cada respiro, a alma que se revela na simplicidade do teu respirar. Sou o que te lembra que, na quietude do que permanece, pulsa a eternidade.