Encarar a Realidade: A Travessia da Vida

Desbravar a vida é uma tarefa reservada aos corajosos, aos que se dispõem a tocar as margens do desconhecido com olhos de intensidade e coração aberto. Viver não pode ser apenas um reflexo de passos automáticos; viver é encarar uma aventura profunda, irretornável, que nos chama a cada momento com urgência.

Sem dor, a vida torna-se insípida, sem sabor ou direção. Felicidade só se revela no contraste da tristeza, paz só se conhece na sombra da guerra. Paz antes da guerra? Ilusão pura, uma promessa vazia que nos arrasta, mas que nunca nos toca a alma.

E então, há o que somos… ou o que acreditamos ser. Fugimos da realidade como um exílio autoimposto, uma fuga que nos ensina a temer a verdade. Procuramos essa verdade, sim, mas receamos o que ela pode nos revelar. Como sombras de nós mesmos, carregamos a pergunta latente: o que estamos sendo? Será que esse “eu” é uma criação frágil, uma invenção que se rompe ao menor toque da verdade?

A realidade parece um tecido que pintamos com cores ilusórias, um véu onde nossas fantasias dançam em contornos quase reais. Queremos tanto dar forma ao mundo com pinceladas de delírio e cultura – nossa própria histeria camuflada como autenticidade. E preferimos continuar, sem questionar, como se o movimento em si fosse suficiente. Gostamos do teatro, da efemeridade, do sentir-se útil ainda que em tarefas vazias.

Somos, na verdade, fragmentos desconexos: pontes, laranjas espremidas, rascunhos sem destino. Despertamos amores passageiros, construímos sonhos frágeis, escolhas imaturas. E tudo o que fazemos, todos os passos, são meros ecos de um teatro contra a simplicidade cristã, contra tudo que poderia ser sólido e verdadeiro.

E ao final, a travessia nos leva a um encontro inadiável, um olhar fixo e inescapável – o olhar para nós mesmos. Podemos fugir de muitos, mas não desse espelho. Resta-nos, então, o confronto inevitável, aquele que temos tanto medo de encarar: nós mesmos, nossa essência em sua realidade mais crua e inegociável.

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