A adolescência é marcada por fases, por vezes intensas, que moldam nosso olhar para o mundo e para nós mesmos. Em minha adolescência, um dos lugares que mais amava frequentar era o Vitória Futebol Clube, um espaço que se tornou uma extensão da minha casa, quase como um santuário de descobertas e superações. Foi lá que me conectei com a natação, uma prática que abracei por dois ou três anos, graças ao programa da Secretaria de Esportes da Prefeitura de Vitória.
Não era apenas um lugar para nadar; era um espaço onde construí memórias que ainda vivem em mim. As pessoas me conheciam ali, e essa familiaridade me fazia sentir pertencente, mesmo quando o mundo adolescente parecia solitário. Além da natação, por um breve período, me aventurei na musculação, mas foi na piscina que vivi meus melhores momentos.
Recordo-me de dias frios, quando a água parecia congelar a pele e a coragem era testada. Mesmo assim, eu era o único a aparecer para a aula. Lembro da prancha que segurava enquanto aprendia os primeiros nados, da sensação de deslizar pela água, do som abafado que ela produzia quando mergulhava. A professora, cuja fisionomia permanece em minha memória, mas cujo nome se perdeu no tempo, era uma figura constante, um ponto de segurança.
Uma imagem específica me marcou profundamente: o dia em que a aula terminou e o céu já havia escurecido. Saí da piscina, fui ao vestiário, tomei banho e, ao trocar de roupa, me dirigi à sala dos professores. Quando abri a porta, lá estava ela, de uma maneira que parecia gravada em minha mente. Não sei por que aquela cena ficou tão vívida, mas até hoje consigo sentir o instante em que a vi, como se o tempo tivesse desacelerado por um breve segundo.
Outro rosto que se destacou foi o do subsecretário de esportes. Ele era alto, magro, de pele clara e cabelos loiros que iam até a cintura. Seu trato comigo era excelente, quase paternal. Ele representava a gentileza institucional, alguém que fazia questão de lembrar que eu tinha valor ali dentro.
Havia também amizades. Brenda e sua irmã. Brenda, morena, com um maiô preto e uma touca preta que combinavam com seu cabelo escuro, era uma presença constante. Sua irmã, loira de cachos definidos, mantinha-se mais distante, quase um mistério. Meu contato se resumia à Brenda, uma conversa aqui, outra ali, sempre entre os intervalos das braçadas.
Apesar da conexão com essas pessoas, tudo ficou circunscrito àquelas piscinas. A água era testemunha de nossas interações, mas o tempo fez delas apenas memórias. Não sei onde estão agora. Nem a professora, nem o subsecretário, nem a Brenda, nem sua irmã, nem qualquer outra pessoa daquele período.
O Vitória Futebol Clube ficou para trás, mas as lições da natação continuam comigo. A perseverança de enfrentar águas geladas, a coragem de mergulhar no desconhecido, o aprendizado de que há beleza até mesmo nas despedidas silenciosas.