O Desejo de Ser e Pertencer: Reflexões sobre a Época de MSN e Orkut

Havia um desejo que me acompanhava, um anseio que oscilava entre o querer ser diferente e o querer ser igual. Ser diferente, sim, mas de uma forma que me elevasse, que me destacasse — uma espécie de superioridade silenciosa que não afastasse, mas que atraísse. Ao mesmo tempo, queria me encaixar, encontrar aceitação, sentir-me parte do grupo, ser igual o suficiente para pertencer. Esse dilema entre o desejo de se destacar e o anseio por aceitação me habitava, e o mundo virtual, com suas promessas de encontros e diálogos, parecia um refúgio onde eu poderia explorar essas facetas de mim mesmo.

Era a época do MSN e do Orkut, plataformas que, apesar de suas limitações, permitiam uma proximidade inédita, uma conexão que se estendia por madrugadas inteiras. A amizade virtual não é novidade de agora; já era possível construir laços, compartilhar segredos e sonhos sob o manto da escuridão digital, lá pelos idos de 2006. Nessas conversas noturnas, em meio ao cansaço e à solidão, encontrávamos uma forma de companhia que transcendia a distância física. Eu, que nunca fui bom de papo, descobria que ali, atrás de uma tela, as palavras pareciam fluir mais facilmente, e o silêncio dos outros era menos ameaçador.

O fascínio das madrugadas virtuais era quase mágico. Era um tempo em que o anonimato nos libertava de máscaras sociais e permitia revelações que talvez nunca fossem feitas sob a luz do dia. E, mesmo sem ser um grande conversador, eu me via escrevendo, respondendo, passando horas em diálogos que pareciam infinitos. O MSN e o Orkut eram, de certa forma, um espaço de experimentação de identidade. Ali, cada conversa trazia o misto de excitação e dúvida, de busca e de silêncio, um constante desejo de ser compreendido e de, ao mesmo tempo, preservar um pouco do mistério de quem eu era.

Hoje, ao lembrar daquela época, percebo que aquelas madrugadas eram mais do que simples conversas; eram uma busca por pertencimento, uma tentativa de vencer a solidão e de construir uma versão de mim que pudesse existir tanto no virtual quanto no real.

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