A Voz do Silêncio: O Encontro com o Nada

Ouvir a voz do silêncio é tocar o íntimo da solidão, um lugar onde, paradoxalmente, o vazio revela profundidade. É caminhar entre rostos conhecidos e sentir a distância que transforma cada olhar em algo intocável. É escutar, no fundo de si, a ausência de respostas – e perceber que o que você procura, talvez, não esteja lá.

O silêncio é uma presença, um deserto onde não há afeto que preencha, onde as alegrias dançam diante de nós, inalcançáveis. Ele nos coloca em um estado de ser que transcende qualquer companhia; somos reduzidos à essência mais solitária do nosso ser. Para ouvir o silêncio, há que se esvaziar até o núcleo do “eu”, há que se estar no limiar do “nada”.

E o que é esse “nada”? Ele é o esgotamento de todos os significados convencionais. Quando o olhar dos outros se torna ausente de sentido, quando o valor do dinheiro se dissolve, quando os prazeres, outrora vibrantes, perdem seu brilho, quando os laços superficiais revelam a incapacidade de preencher o vazio interior – é nesse momento que se abre o portal do silêncio.

O silêncio, então, se torna a única voz. É uma voz que não precisa de palavras, que não busca ser compreendida, que não espera respostas. Ele exige uma escuta que não se faz com os ouvidos, mas com a alma. Para ouvir esta voz, não é preciso falar, ver, ou sentir, apenas ceder, apenas aquietar-se na presença desse nada absoluto.

E ao chegar nesse ponto, quando tudo mais desaparece, é então que se encontra Deus. Pois Deus, no silêncio, é o próprio mistério da presença no vazio. Ele é a sabedoria que brota quando nada mais resta; Ele é o que persiste quando tudo o mais se foi.

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