A Descoberta Amarga do Erro

A Descoberta Amarga do Erro

O erro e o pecado são, para mim, companheiros próximos, mas não idênticos. Nem todo erro, afinal, é pecado; erramos em nossos cálculos, em nossos passos, nas nossas tentativas humanas de acertar. O erro, muitas vezes, é como um tombo acidental que nos ensina, uma falha de compreensão que nos lembra da nossa limitação. Já o pecado, por outro lado, é um erro que ultrapassa a barreira do simples desvio; ele carrega em si uma violação de algo essencial, uma ferida na relação com o Sagrado, uma quebra na harmonia com Deus e conosco mesmos. O pecado, ao contrário do erro comum, tem raízes profundas, motivadas pela inclinação humana a se afastar daquilo que é puro e eterno. É como se a natureza do pecado estivesse não apenas no ato, mas no rompimento da nossa busca por retidão.

Confesso, errar já foi uma prática comum para mim. Para os que pensam que fui santo, aviso desde já: nunca fui. Tentei, lutei por essa santidade, mas faltaram-me forças, ou talvez compreensão plena do que ela exige. A santidade, ao que parece, é menos uma conquista e mais uma jornada constante, uma que, para mim, sempre pareceu distante, inalcançável. Como poderíamos não errar, mesmo tentando fazer o certo? E mais – como poderíamos viver, em nossa humanidade, sem nos afastar momentaneamente, ainda que sem intenção, dos caminhos estreitos da retidão?

Não tenho pretensões de descrever o que é o pecado, já que tantas definições já existem por aí. Cada um pode buscar seu significado, mas a verdade permanece: ele me persegue, me questiona, me tenta. Minhas quedas me surpreenderam, e o que mais me intriga é não saber ao certo o que me levou a pecar. Foi o desejo de saciar uma carência? Foi o orgulho de não precisar de ninguém, nem mesmo de Deus? Ou será que o pecado sempre existiu em mim, como uma linha tênue entre meu desejo de virtude e a realidade das minhas limitações?

No fim, pecar me fez encarar a face de um ser humano frágil e, ao mesmo tempo, obstinado. Mesmo quando errei sem pecar, ou quando pequei com plena consciência, a descoberta foi amarga. Não sou santo, e já não me engano com essa ilusão. Eu sei que sou pecador, e a cada erro – sejam eles enganos puros ou deslizes conscientes – percebo que meu único trunfo é a aceitação da minha necessidade de redenção.

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