O Encontro com a Verdade: A Tentação da Autojustificação

Será que posso realmente me justificar diante de Deus? Essa pergunta ecoa em mim com mais força agora do que jamais ecoou na inocência da infância. Quando eu era criança, a ideia de santidade me parecia simples. Pensava: “É tão lógico! Basta não ceder ao pecado, basta seguir os princípios que aprendi e manter-me inabalável.” Para mim, naquela época, a santidade era uma questão de disciplina quase matemática; o pecado, uma falha de lógica, uma fraqueza evitável.

Mas o tempo nos transforma, e com ele vêm os desvios sutis que nos afastam do que pensávamos saber. Sempre fui curioso, fascinado pelo conhecimento e pelas possibilidades de desbravar novas ideias. No entanto, essa curiosidade, que a princípio parecia tão inofensiva, foi se tornando uma força que me puxava para longe da segurança que acreditava ter. Quanto mais eu descobria, mais percebia que esse desejo de saber tinha se tornado uma força dominadora, uma ânsia que desafiava os limites daquilo que era lícito e seguro. E, assim, sem perceber, eu já estava num caminho que me afastava de Deus.

Foi então que me vi dividido entre o temor a Deus e a necessidade insaciável de explorar aquilo que deveria ter permanecido desconhecido. A curiosidade, que inicialmente era teórica, logo exigiu uma liberdade prática — e fui cedendo, pouco a pouco, até que meus passos me levaram a um lugar onde já não podia me justificar diante de Deus, onde meu desejo de santidade se revelou apenas uma ideia desvanecida. Aquela segurança infantil em “fazer o certo” revelou-se frágil.

A realidade é complexa e muitas vezes cruel. Pensei que estava no controle, mas percebi que, na verdade, era a curiosidade que estava no controle de mim. E me pergunto quantas outras coisas podem estar nos dominando sem que percebamos. No fundo, somos sempre dominados por algo ou alguém, e se assim deve ser, que seja pelo próprio Deus.

Meu conselho? Não busque justificar-se por si mesmo. A autojustificação é ilusória e deixa um vazio. Que a sua entrega não seja para algo que consome sem dar vida em troca, mas para Cristo, que é a luz e a vida em plenitude. Permita que Ele ilumine seu caminho, e evite os atalhos que prometem facilidade, mas cobram um preço alto.

Hoje, reconheço que só Ele pode me justificar. Ele, que conhece cada desvio, cada fraqueza e cada intenção. Ele, que me conhece melhor do que eu mesmo. Que o seu domínio em minha vida seja total, que Ele transforme o que em mim não posso transformar sozinho. Que eu volte ao caminho certo, guiado pela graça, e que esse desejo de saber e ser, que me afastou dEle um dia, agora me traga de volta para o único que pode verdadeiramente me libertar.

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