O Sonho: Semente Escondida no Véu da Ilusão

Há algo de sagrado nos sonhos, algo que repousa em silêncio, num ambiente onde a ilusão cobre e guarda como um véu frágil e intocável. Os sonhos vivem numa dimensão própria, numa espécie de território secreto onde a realidade ainda não os tocou, onde sua pureza permanece inviolável. Eles flutuam como sementes suspensas no desconhecido, esperando, talvez, o momento exato de se enraizar no solo do possível. Contá-los é profanar o mistério; expô-los à luz é uma forma de mutilação, uma abertura que lhes rouba o encantamento e a força. O sonho que se revela perde o poder de ser apenas nosso; ele se dissipa, se desintegra, deixa de existir como era.

Porque, no fundo, o sonho é uma verdade que ainda não se materializou, uma potencialidade que guarda em si a promessa de algo novo, de algo que está para nascer. Mas ao tentar viver o sonho em imagens, ao buscar tangibilizá-lo antes da hora, caímos no risco de transformá-lo em uma sombra pálida do que poderia ser. A realidade, ao tocar o sonho, desvirtua sua essência; ela o prende, o circunscreve em limites que ele não pode suportar. O sonho é liberdade, é vastidão; reduzi-lo a uma imagem é uma traição, uma tentativa de domesticar o que, por natureza, pertence ao indomável.

Sonhar é um ato secreto, uma dança silenciosa com o nosso interior mais profundo. É um espaço onde o possível e o impossível se misturam, onde a mente ousa ver além das fronteiras da experiência. Mas essa visão é delicada, como uma chama acesa em meio ao vento; qualquer palavra mal pronunciada, qualquer olhar demasiado ansioso, pode apagá-la. E talvez seja por isso que contar o sonho é proibido. No momento em que tentamos traduzir o que sentimos, perdemos a conexão com o inefável, com aquilo que se revela apenas no silêncio entre os pensamentos, naquele espaço que não precisa ser compreendido, mas apenas sentido.

O sonho é um templo interior, um lugar onde o real e o irreal se encontram para dialogar. É uma promessa que guarda em si o potencial de um futuro, mas que, ao ser exibida, se perde, como um fio de fumaça que se dissolve no ar. O segredo do sonho é sua invisibilidade, sua capacidade de permanecer além da nossa compreensão. E talvez o que ele nos ensine é que, para tocar o real, é preciso primeiro abraçar o mistério. Porque o verdadeiro sonho não precisa ser revelado; ele precisa apenas ser vivido — com a suavidade de quem sabe que, no fim, o que é mais precioso nunca pode ser possuído.

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