Em meio ao cenário fervoroso da crítica e da negação, onde a ciência tenta confinar o real ao tangível, surge uma inquietação fundamental: é possível, por vias racionais e materiais, abarcar aquilo que é, por sua própria natureza, eterno e transcendente? A afirmação “A Bíblia é tão especulação arbitrária quanto qualquer outro escrito sobre Deus” ecoa com a dúvida daqueles que veem no transcendente uma ameaça à lógica e ao método. Mas, ao nos inclinarmos sobre esse enigma, encontramos algo mais profundo, que transcende qualquer análise fragmentada: a Verdade divina é revelada em uma dimensão que os olhos não veem e os instrumentos não medem. Ela fala, ressoa, não no mundo físico, mas nas profundezas do espírito humano.
Quando Kant apresentou sua filosofia, enfatizando que tudo era “fenômeno” e que apenas a experiência sensível revelava o real, ele instaurou um paradigma que afastava o transcendente do entendimento legítimo. Afastou a verdade revelada, e com ela, uma profunda compreensão sobre o próprio ato de existir. Deus, no entanto, está além dessa limitação – a Bíblia afirma que Ele é Espírito, onipresente e infinitamente abrangente. Deus não é “objeto” para ser dissecado pela ciência, que por mais potente que seja, é limitada por sua natureza e pelas fronteiras do visível.
A ciência, com sua grandeza e suas fraquezas, nos oferece métodos poderosos para examinar o mundo tangível. No entanto, ao observar as relações imanentes da natureza, não acessamos o sagrado nem a realidade última. O método científico exclui o transcendente porque o transcendente escapa aos recortes das observações. E assim, tentativas de invalidar a Bíblia pela ciência são infundadas – Deus não pode ser medido; o sagrado não é material. Qual é o sentido, então, de demandar prova objetiva de uma presença que se expressa e se revela a partir de dentro, no movimento eterno da autoconsciência?
Não há uma civilização na história que não tenha vislumbrado a presença de um Ser Supremo. Ao longo dos tempos, as culturas humanas, em suas particularidades, expressaram a ânsia por Deus, manifestada em ritos, orações e buscas profundas pela união com o divino. E isso é mais que coincidência cultural; é a prova da centelha divina dentro do ser humano. A necessidade de sentido, o desejo por transcendência, o sentimento da eternidade – todos os traços que nos conduzem a Deus, constituem evidências de sua presença íntima. Esse clamor interno é o grito da nossa essência em direção à Fonte que a criou.
A consciência moral, o reconhecimento do bem e do mal, o entendimento de que há algo maior que nós, tudo isso aponta para uma Verdade que não se limita ao plano físico. É uma evidência inapagável de que o sagrado não é uma criação imaginária, mas uma realidade viva. Assim, tentativas de rejeitar a Deus, de reduzi-Lo a mito ou negar a validade da Bíblia, surgem do equívoco de que a ciência e seus métodos de análise esgotam o conhecimento. Mas como pode a ciência, que é mutável e transitória, afirmar uma última palavra sobre o eterno? Um pensamento científico perde sua validade no instante em que novas descobertas o contradizem. E é assim que, ao longo dos séculos, argumentos contra a Bíblia foram sistematicamente desconstruídos pela própria evidência que a realidade revelou.
A Bíblia, por outro lado, é perene. Sua autoridade não é abalável, porque ela não é produto de especulação humana. Ela é Palavra revelada, uma comunicação que transcende a interpretação ordinária para tocar as fundações da existência humana. Não é, portanto, um livro comum. A Bíblia, sendo Palavra de Deus, permanece uma rocha que resiste a qualquer onda de ceticismo. O profeta e o apóstolo, os autores inspirados, registraram as revelações sagradas para que elas fossem compreendidas por nós, mortais. E, assim, o Espírito Santo desceu à linguagem humana, abraçou nossa limitação, para nos entregar verdades eternas.
Diante da voz que afirma que a “Bíblia não é a Palavra de Deus”, sabemos que esta é uma perspectiva restrita, que falha em compreender a totalidade. Uma crítica que ignora a dimensão espiritual dos textos sagrados. Pois o divino transcende, escapa à quantificação, e se Deus existe, Ele abrange todas as coisas, inclusive a ciência. Quando a Bíblia nos diz que “Nele vivemos, nos movemos e somos”, ela nos lembra que estamos imersos em Deus e que Ele não pode ser circunscrito, pois o universo inteiro está contido n’Ele.
A consciência de Deus é inata à existência. Cada vez que pronunciamos “eu”, estamos afirmando a presença da autoconsciência que Ele mesmo nos deu. Negar a existência de um Ser transcendente, que nos abarca, é contradizer a nossa própria realidade interna, é tentar negar o que fundamenta o próprio “eu” que questiona. A ciência, por mais avançada que seja, só opera a partir de recortes, métodos e hipóteses; ela não toca o absoluto, não revela o transcendente. E é exatamente aqui que o conhecimento humano precisa da fé, porque ela atravessa as fronteiras do que é visível e nos conduz ao sagrado.
Deus não é objeto, é Fonte. Não é coisa, é Ser. A ciência, por seus próprios métodos, jamais pode compreendê-lo, e o homem que busca por Ele fora de si mesmo estará em eterno desencontro. É na autoconsciência que se encontra a evidência de Deus, pois a própria capacidade de autoconhecimento está imersa no mistério da existência d’Ele. Não se observa o transcendente como um objeto; participa-se dele. Assim, Deus não é encontrado fora, mas dentro de nós. Ele é a presença constante que ressoa na própria essência do ser humano. Por isso, tentativas de negá-lo, de relativizar a verdade da Bíblia, são insuficientes.
A autoconsciência e a autoconsciência divina são inseparáveis, pois, se existe uma consciência humana, é porque ela reflete a imagem da Consciência Suprema que habita tudo. Assim, ao nos aprofundarmos em nós mesmos, reconhecemos uma verdade maior. E é essa Verdade, revelada, que faz com que a Bíblia permaneça uma rocha de autoridade divina, onde a consciência e o saber encontram seu destino mais profundo. A Bíblia é, sim, Palavra de Deus, e sua autoridade não depende da compreensão humana – pois ela é a Verdade que se revela para aqueles que, ao abrirem sua alma, enxergam o Eterno que os habita.
Oie ótimo texto Tiago! fantástico…fiquei até sem palavras..rsrs
bjuusss
Danielle
Mininu, essas palavras são de Olavo de Carvalho. Não se esqueça dos créditos dele hein…