A Coragem do Medo: O Avesso da Força

O medo é uma presença constante, mas não é o inimigo. Em sua essência, é o avesso da coragem, um espelho que reflete nossas profundezas, uma medida de nossa humanidade. O medo nos ensina cautela, humildade e nos impede de sermos heróis prontos demais, isentos da jornada de incertezas que faz da vida uma tapeçaria inacabada e, por isso mesmo, tão bela. O encanto da existência reside nesse contínuo estado de “quase”, no detalhe que ainda falta, na parte que ainda não dominamos. E assim, a vida fica mais interessante quando vista do avesso – e os medos também.

Há muitos tipos de medo, cada um em seu próprio disfarce: o medo de não vencer, de não chegar, de não saber, de não amar, de falhar em uma tarefa pequena ou em um grande sonho. Medo de perder, de errar, de arriscar, de ser feliz. São os temores que, à primeira vista, parecem obstáculos, mas que, na verdade, são lembretes para que olhemos mais de perto, com mais atenção.

O medo, afinal, não é ausência de coragem; ele é o cuidado redobrado. Ele nos lembra de sermos reais, de nos preservarmos. Quem tem medo caminha com mais sabedoria, percebendo onde está seu chão e até onde vai seu horizonte. É o medo que nos coloca na medida certa e nos prepara para o sorriso de vitória quando, finalmente, atingimos o que parecia distante. O medo, vivido em sua forma saudável, nos coloca em contato direto com nossa vulnerabilidade, nos mostrando quem somos e a proporção exata de nossos passos.

Há medos, no entanto, que se tornam grilhões, paralisantes e sufocantes. Esses, quando se tornam temores crônicos, precisam ser enfrentados e ressignificados. Precisamos olhá-los nos olhos, encará-los com firmeza para que voltem a ocupar seu lugar e se tornem apenas… medo. Um medo sadio, que, ao invés de nos prender, nos mantém alertas.

Ser humano é, paradoxalmente, permitir que o divino em nós se manifeste. O medo bem medido, sabiamente enfrentado, abre espaço para o Divino prevalecer. Que ele seja nosso guia na jornada e que o dominemos com respeito, sem jamais deixar que nos domine ou que controle nossos passos. Afinal, o resto são lições que a lousa da vida ainda guarda, esperando para serem escritas.

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