A experiência de Deus nos faz perceber a mão do Pai em cada criatura, em cada detalhe da criação. Desde os tempos mais remotos, os homens experimentaram essa presença. Os primeiros homens, imersos em um mundo inexplorado e indomável, eram profundamente religiosos. A arqueologia e a história confirmam isso. Diante das forças da natureza — as chuvas, os trovões, o brilho do sol, o mistério da lua e das estrelas — o homem primitivo sentia algo além de si, algo grandioso e inefável, e reverenciava essa força superior.
O homem moderno, por outro lado, parece ter perdido esse contato direto com a natureza. Vivendo em cidades de concreto, isolado pela tecnologia e pelas preocupações imediatas, sua sensibilidade diminui. O que antes era uma ponte para o divino, para o mistério, tornou-se um cenário indiferente. Não nos propondo ao panteísmo, mas ao reconhecimento: a natureza revela a beleza de Deus e desperta em nós a gratidão. Embora aceitemos a evolução, afirmamos a intervenção divina que molda e sustenta essa criação em constante movimento. Negar a mão de Deus seria transformar tudo em mero acaso, algo aleatório e sem propósito. E como crer que o universo, com sua perfeição relativa, com sua ordem e beleza, poderia surgir do acaso?
Se o que foi criado nos conduz a Deus, também nos convida à entrega. O próprio Cristo usou a natureza para nos ensinar. Quando Ele apontou para as aves do céu e os lírios do campo, não estava apenas criando uma metáfora poética. Ele nos mostrava que a criação é um reflexo de algo maior, uma trilha que nos leva ao Pai.
Diante da criação, somos chamados a questionar: nossa confiança repousa realmente em Deus? Somos capazes de nos abandonar nas mãos d’Aquele que nos criou? Jesus nos lembra: “Olhai as aves que voam no céu; não semeiam o grão nem colhem, nem acumulam a colheita nos celeiros; pois o vosso Pai celeste lhes dá de comer. Acaso não valeis muito mais do que elas?” (Mateus 6:26).
Sim, valemos mais que as aves, pois somos filhos de Deus. No entanto, a vida moderna nos empurra para preocupações vãs e consumismo, e com isso perdemos de vista esse amor imenso que nos envolve e sustenta. A cada dia, as inquietações se acumulam: a fome e as guerras pelo mundo, a escassez de recursos, a inflação crescente, a corrupção, a poluição, as doenças, as desigualdades… Em meio a tudo isso, parece uma loucura parar para contemplar flores. Olhar para os lírios em meio a tanta desordem não seria alienação?
O que Cristo nos convida a fazer é olhar o mundo com os olhos de Deus, com a serenidade e a confiança daqueles que sabem que a criação fala ao nosso coração. Quando esteve entre nós, Jesus conhecia perfeitamente os graves problemas da humanidade, mas, ainda assim, Ele escolheu ensinar com as aves e as flores. Porque elas, em sua simplicidade, nos mostram a confiança no Criador, uma confiança que perdemos ao não amar a natureza, assim como esquecemos de amar os homens, criados à imagem e semelhança de Deus.
Como, então, encontrar Deus em meio aos desencontros do mundo? Quem experimenta Deus em sua vida aprende a enxergar o mundo sob uma nova ótica, um olhar divino que vê a mão do Pai em cada criatura e em cada acontecimento. O Senhor nos fala nas coisas mais simples, se nos dispusermos a ouvi-Lo. Até mesmo a doença, que não vem de Deus, pode nos ensinar a buscá-Lo, a depender mais profundamente Dele. Deus é vida, e até no sofrimento Ele nos convida a nos abrirmos ao Seu amor.
Quando experimentamos Deus como um Pai que nos ama, nossa visão muda; passamos a ver Sua presença em nossa vida com mais clareza e profundidade. O homem moderno busca algo mais do que ideias sobre Deus; ele quer tocá-Lo, vivenciá-Lo. E como tocar Deus, senão através de nossa própria vida, sendo instrumentos de Seu amor? Quando nos abrimos a essa experiência, nos tornamos como canais de Deus, saciando a sede de amor de um mundo que tanto anseia por Ele. Para isso, precisamos ouvi-Lo não apenas em Sua Palavra, mas também nos acontecimentos cotidianos, na natureza, nas coisas criadas… É preciso experimentá-Lo!