O Testemunho na Mesa do Bar

O Testemunho na Mesa do Bar

Era o aniversário da igreja Assembleia de Deus no bairro São João Batista, em Vila Velha, provavelmente no ano de 2007. Meu amigo Douglas Pinheiro pastoreava aquela pequena congregação, auxiliado pelo então presbítero e hoje pastor Joabe. Recebi o convite para pregar por dois dias: na noite de sábado e na manhã de domingo, um período breve, mas com a promessa de grandes experiências espirituais. Naquela noite de sábado, a igreja estava cheia, e a atmosfera era a de celebração. Enquanto ministrava a palavra, senti o fervor do momento, até que um incidente inesperado mudou o curso de tudo.

Um senhor entrou na igreja. Seus passos vacilantes e a maneira como se dirigiu ao último banco denunciavam o estado em que estava: aparentemente embriagado. Sentou-se perto da porta de saída e começou a proferir palavras aleatórias, frases soltas que, de início, não pareciam ser nada, mas logo se tornaram um foco de distração. Percebi que a congregação já não estava comigo; a atenção deles havia sido desviada da palavra que fluía do altar para o murmúrio do homem embriagado. A luta pela atenção era desigual, e continuar pregando naquele momento seria em vão. Foi então que tomei uma decisão.

Interrompi a pregação, desci do púlpito e chamei o homem para frente. Pedi que se aproximasse, e ele veio, com passos hesitantes. Impus minhas mãos sobre ele e orei, com a convicção de que Deus estava naquele momento. Pedi ao Senhor que trouxesse paz àquele homem e que sua mente fosse tomada pela presença divina. Ao fim da oração, pedi que ele retornasse ao lugar e permanecesse quieto, ouvindo a palavra de Deus. E assim ele fez. Sentou-se novamente no banco do fundo e, para minha surpresa, não causou mais interrupções. O culto prosseguiu, e, ao final, voltei para casa. Não vi mais o homem naquela noite, nem imaginei que a história continuaria no dia seguinte.

Na manhã de domingo, ao chegar à igreja para ministrar a aula, deparei-me com as portas ainda fechadas. Os obreiros não haviam chegado, e eu me vi ali, diante da igreja trancada, aguardando. O tempo parecia suspenso, e me sentei no meio-fio da rua, de frente para a igreja, sem imaginar que Deus estava alinhando algo extraordinário. Do meu lado esquerdo, um bar já estava aberto, e, ao ouvir uma voz conhecida, virei o olhar. Lá estava o mesmo homem da noite anterior, agora sentado em uma das mesas, conversando com dois outros homens. O tom de sua voz era diferente, lúcido, firme. Ele não me viu, mas eu o via. Ele não sabia que eu o ouvia, mas suas palavras me alcançaram.

“Ontem fui nessa igreja,” ele dizia, “e o pastor fez uma oração para mim. Eu estava bêbado, mas depois da oração, o efeito do álcool passou, e eu fiquei lúcido.” Aquelas palavras ecoaram dentro de mim como um trovão. Ali, na mesa de um bar, aquele homem, sem saber, testemunhava o agir de Deus, não apenas aos seus companheiros de mesa, mas a mim, que, sentado no meio-fio, ouvia o que precisava ouvir. O que me impressionou não foi apenas o testemunho em si, mas a orquestração divina por trás de tudo: o atraso dos obreiros, o lugar onde me sentei, a clareza com que ouvi suas palavras. Tudo apontava para um propósito maior.

Fiquei ali, em silêncio, contemplando a cena. Não era necessário que ele soubesse que eu o ouvia; Deus já estava falando por meio dele. Na simplicidade de sua fala, reconheci o poder de um ato que, na noite anterior, parecia apenas uma tentativa de resolver uma interrupção. Mas para Deus, aquele gesto tinha um alcance muito maior. A oração não apenas acalmara o tumulto; ela transformara um homem, dissipando o efeito do álcool e devolvendo-lhe a lucidez. E ali, na mesa de um bar, ele testemunhava um milagre que talvez nem ele compreendesse por completo.

Deus me colocou naquele meio-fio para ouvir e ver o que eu talvez nunca soubesse de outra forma. A espera que parecia sem sentido revelou-se um momento de aprendizado profundo. Naquele aniversário da igreja, o presente maior não foi o que ministrei, mas o que recebi: a certeza de que Deus age onde menos esperamos, através de quem menos imaginamos, e no momento exato em que precisamos compreender o alcance de Sua graça. A mesa do bar tornou-se um altar, e as palavras daquele homem, um sermão que nunca esquecerei.

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