“Corre…” Foi a única coisa que ouvi do passado. Sem hesitar, obedeci. Corri como se houvesse um destino a alcançar, como se pudesse deixar para trás o que me trouxe até aqui. Corri, tentando superar o próprio tempo, mas o tempo, incansável, continuou. Em meio ao esforço, eu cansei; o tempo, imune ao cansaço, prosseguiu. Não parei. Continuei, mas o tempo também. Ele sempre ultrapassa, sempre à frente, sempre um passo além do que posso alcançar. Segui mais devagar, sem o fôlego que eu tinha no começo, mas com uma sensação de que algo, ou talvez eu mesmo, ficava para trás.
Cheguei a um lugar que agora já me é desconhecido. Estou entre o “ir” e o “chegar,” preso a essa linha tênue onde tudo parece avançar, mas, ao mesmo tempo, permanece suspenso. É um espaço em que o tempo parece desafiar a própria velocidade, onde nem o movimento para frente é possível, nem o retorno ao que fui. Uma linha sem fim, um ponto suspenso na corrida contra o tempo, onde o presente se estende e me prende como um trem que segue seu destino numa passagem tranquila e ininterrupta, porém indiferente às paradas desejadas.
Imagino que cada ser humano carrega consigo o desejo de voltar ao seu Paraíso perdido. Uma nostalgia indefinida, um anseio por algum passado que parece mais real do que o que tocamos agora. Talvez pensar no que fomos e no que perdemos possa lançar luz sobre o que somos e sobre o que ainda podemos ser. Mas a vida, essa escrita sem borracha, deixa marcas indeléveis; ela não permite revisões, não admite uma segunda versão. As páginas que o tempo já tocou guardam suas próprias marcas, uma tinta irrevogável. E, diante disso, pergunto-me: o que fazer?
Procuro respostas, talvez no olhar do outro, talvez nas profundezas de mim mesmo, talvez em algum espaço que nem sequer imagino. E, ao mesmo tempo, reconheço que talvez essas respostas nunca venham. Que minha busca seja sempre a de um ser errante, um viajante em meio a perguntas sem respostas.
E então, o que sou? Chego à conclusão de que, em parte, sou feito de todos os erros do passado, de todas as tentativas que não se concretizaram, das sombras que ficaram onde meus pés já pisaram. Sinto que, no fundo, somos sempre erros do passado, ecoando em um presente que nos desafia. Não há perfeição, não há um acerto que nos defina, apenas uma sequência de passos, uns mais incertos que outros, compondo o que somos. Porque talvez o acerto absoluto seja algo que não pertence a nós, mas ao próprio tempo, que segue adiante, enquanto nós seguimos em nossa corrida, sempre um pouco atrás.